São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 1995
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Crise, corporativsmo e inabilidade ameaçam mudanças da Constituição

REINALDO AZEVEDO
EDITOR-ADJUNTO DE POLÍTICA

As reformas pretendidas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso já contabilizam uma primeira vitória: consolidaram uma agenda de temas a serem debatidos sem a qual o país não estaria equipado institucionalmente para enfrentar os desafios de uma economia globalizada. Embora afinadas com a contemporaneidade, começam a enfrentar o pantanoso terreno da negociação política.
Em segundo lugar, o apelo fisiológico e a vocação inercial do parlamento brasileiro têm procurado descaracterizar o que há de política pública nas reformas. Por último, mas não menos importante, a inabilidade do governo em lidar com esses dois outros fatores alimenta o clima de incerteza.
Tempo de Reformas registra esse momento delicado por que passam as negociações do governo com o Congresso e com os setores organizados da sociedade e publica ampla pesquisa feita pelo Datafolha sobre a opinião dos parlamentares, que vão definir o formato do Estado neste fim de século.
A julgar pelas respostas dadas por deputados e senadores, o presidente Fernando Henrique não teria grande dificuldade para aplicar a chamada agenda da modernização.
Na sua maioria, eles se mostram favoráveis à abertura da economia ao capital externo, defendem a flexibilização dos monopólios para petróleo e telecomunicações, querem o fim da discriminação ao capital estrangeiro e reconhecem a necessidade de alterações profundas no sistema previdenciário.
A história recente do país ensina, no entanto, que o voto nos parlamentos está bastante sujeito à inflexão das circunstâncias. Bastou que o Plano Real tropeçasse num princípio de crise cambial e que a falência da economia mexicana viesse a demonstrar as fragilidades da nova ordem mundial para que um gatilho se armasse contra as reformas.
A manifestação em defesa de direitos adquiridos por parte de setores ou categorias, em si mesmo legítima, também serve de pretexto para a defesa da ineficiência e do atraso. Distinguir a reivindicação socialmente justificável da mera pressão de corporações atingidas em seus privilégios é tarefa que exige fina habilidade política, o que tem faltado, reconhecem à Folha as lideranças do governo.
As circunstâncias em que FHC negocia as mudanças compõem boa parte deste Tempo de Reformas. O caderno traz ainda quadros informativos com o conteúdo das emendas, as propostas em estudo e um elenco de perguntas e respostas sobre os efeitos que as reformas teriam no dia-a-dia do homem comum se aprovadas.
Se as propostas de FHC têm o mérito de atualizar a agenda política do Brasil segundo as demandas da ordem internacional, terão um difícil caminho a trilhar, que passa pela também reforma dos usos e costumes da política nacional.

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