São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 1995
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Marinha não quer sair de Alcatrazes

VICTOR AGOSTINHO
ENVIADO ESPECIAL A ALCATRAZES

A Marinha realizou na última sexta-feira seu terceiro exercício de tiro deste ano no arquipélago de Alcatrazes, a 33 km de São Sebastião (SP).
A cada exercício são desferidos até 300 tiros de canhão. Por ano são dez exercícios e 3.000 tiros. Ambientalistas querem transformar as ilhas em Parque Marinho e, com isso, acabar com os treinamentos no local.
A polêmica entre a Marinha e os ambientalistas se arrasta desde 1980, quando começaram os exercícios da esquadra brasileira.
Os ambientalistas alegam que os tiros podem levar à extinção duas aves que procriam basicamente em Alcatrazes, o atobá e a fragata, além de interferir no frágil ecossistema das ilhas.
A Marinha afirma que o local escolhido como alvo —um paredão rochoso no Saco do Funil, na ilha principal— não interfere na fauna e flora das ilhas. Afirma ainda que se não tivesse proibido o acesso de turistas ao arquipélago, o local estaria depredado.
A Folha acompanhou os exercícios a bordo da fragata Independência e no posto de observação da Marinha em Alcatrazes —única edificação na ilha. Não houve revoada de pássaros durante os tiros de canhão e todos os projéteis (granadas sem explosivos, com areia) acertaram os alvos. Apenas um projétil ricocheteou no alvo de pedra e atingiu o interior da ilha.
A fragata Independência disparou tiros de uma distância de 6 km do arquipélago. O barulho dos tiros era ouvido no Saco do Funil, mas na área de ninhais das aves era quase imperceptível.
Segundo o capitão-de-mar-e-guerra Luiz Augusto Correia, comandante da Independência, "os tiros erráticos são insignificantes". Correia reconhece que há cinco anos, quando eram usados alvos no topo do paredão, os disparos poderiam prejudicar as aves. O comandante diz que agora só são utilizados três alvos que ficam a uma altura de 20 metros.
"A Marinha chegou à conclusão de que não poderia fazer do jeito que fazia. Acho que encontramos um equilíbrio. Atendemos aos ambientalistas e também às nossas necessidades, sem precisar sair de Alcatrazes", disse.
Relatório da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) de maio do ano passado indica que "as atividades da Marinha, associadas à passagem de visitantes predatórios, têm sido as principais fontes de impactos" no ecossistema do arquipélago.

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