São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 1995
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Indústrias atrasam investimentos

FÁTIMA FERNANDES; MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Grandes e pequenas indústrias de bens de consumo sentem no caixa os efeitos da alta dos juros e da queda nas vendas.
A falta de liquidez, acentuada nas últimas semanas, já faz empresas adiarem seus planos para aumentar a produção.
Para boa parte dos empresários, o mercado ficou tumultuado depois que o governo aumentou os juros e apertou o crédito.
A Ortopé, por exemplo, que fabrica calçados infantis, é uma das empresas que está revendo seus projetos de expansão.
Traçada na época do auge do consumo, a sua estratégia era a de ampliar a produção de 65 mil pares por dia para 100 mil pares por dia até o final de 1996.
Para isso, a Ortopé ia investir US$ 25 milhões em duas novas fábricas —uma no Rio Grande do Sul e outra na Paraíba.
"Decidimos esperar um pouco mais para ver o comportamento do consumidor. As encomendas das lojas caíram 30% neste mês", diz Horst Volk, presidente da Ortopé.
A malharia Hering investe, por enquanto, só na manutenção e na modernização de equipamentos. Serão US$ 8 milhões este ano.
"Se o consumo se mantiver firme e a economia se mostrar estabilizada até o final do ano, aí vamos desengavetar projetos", diz Abramo Moser, diretor.
Ele acredita que o volume de encomendas do comércio caiu. O normal é a empresa operar com 60 dias de pedidos em carteira. Hoje, trabalha apenas com 35 dias.
A Black & Decker (eletroportáteis) também reavalia seus planos de expansão de US$ 5 milhões.
"A idéia inicial era aumentar até 50% a produção. Agora estamos revendo os números", afirma Jacques Wladimirski, diretor.
Carlos Eduardo Uchôa Fagundes, diretor da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), diz que os investimentos no curtíssimo prazo estão sendo adiados.
Na sua avaliação, isso é momentâneo. "É que passados os efeitos da crise mexicana e argentina as taxas de juros caem e os investimentos são retomados."
Metade das 110 mil micro e pequenas empresas industriais paulistas também revêem seus planos de expansão, segundo pesquisa do Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo).
Joseph Couri, presidente do Simpi, conta que, em janeiro, 63% das micro e pequenas empresas planejavam investir quantia equivalente a 23% dos seus ativos.
"Com as mudanças na política econômica, os pequenos empresários estão colocando pé no freio dos investimentos."
Para o empresariado, diz Couri, a subida da taxa de juro para desconto de duplicata funciona como ducha de água fria na produção.
Em fevereiro, os juros oscilavam entre 6% e 8% ao mês. Hoje variam de 11% a 14% ao mês.
Quem não se entusiasmou com a euforia do consumo desde a entrada do real está numa posição mais tranquila hoje.
"Nunca fui eufórico para expandir a produção. Tenho pé no chão. Avalio bem o comportamento do mercado.", diz Felippe Arno, diretor-presidente da Arno,
Jorge Calmon, diretor comercial da Benetton, diz também que o "clima de euforia nunca contagiou a empresa".

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