São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 1995
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Exame nacional demora duas 2 gerações

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Um exame nacional, como propôs o ministro Paulo Renato de Souza em seu discurso de posse, só seria possível daqui a no mínimo duas gerações, graças às diferenças de nível na educação no país.
A afirmação foi feita pelo diretor-executivo da Fuvest, Alceu Gonçalves de Pinho. "Imagine as diferenças entre São Paulo e o Piauí, se no interior de São Paulo já há um contraste enorme", diz. "O que houve foi muita falação e depois um recuo tático. Ele (o ministro Paulo Renato) preferiu tocar pra frente."
Pinho disse que 25% dos candidatos que tentam uma vaga na Universidade de São Paulo não conseguem pontuação para entrar em nenhum curso oferecido pela universidade.
"Dizem que o exame é elitizante. Mas ele pega 11 anos de distorções por trás", justifica o diretor. Segundo ele, os dados de quem começa e não termina o primeiro grau não são precisos, mas calcula-se que ele está em torno dos 10%.
"São milhões os que não conseguem chegar ao segundo grau. Então, você chega ao vestibular e tem 120 mil candidatos para 8.401 míseras vagas. Se isso é cruel, o problema não é do vestibular, mas de tudo o que veio antes."
Ele criticou a falta de orientação de grande parte dos estudantes que prestam Fuvest. Segundo estatísticas da instituição, 15 mil candidatos tentam cada uma das carreiras de maior renome —direito, engenharia e medicina.
Desses, em média 5.000 não teriam condições de passar à segunda fase —porque não atingiriam pontuação mínima nem para as carreiras menos concorridas em cada uma das áreas.
"Isso acontece ou porque os estudantes não têm autocrítica ou porque não são orientados pelos professores ou pais. E a família alimenta sonhos, na maioria das vezes impossíveis", diz Pinho.
Para ele, esses candidatos "são um elemento perturbador do exame, pois deforma todos os números do vestibular".

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