São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 1995
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Atores e atrizes provocam mais suspense

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Em 1992, discutia-se se a Academia reconheceria um velho "outsider", Clint Eastwood, e lhe daria o prêmio de melhor diretor por "Os Imperdoáveis". Em 93, se Hollywood enfim retribuiria a Steven Spielberg o muito que recebeu dele e lhe daria o Oscar por "A Lista de Schindler".
Neste ano, os maiores favoritos na categoria direção não chegam a suscitar grandes paixões. Robert Zemeckis (de "Forrest Gump") e Robert Redford ("Quiz Show") não inauguram tendências, nem suscitam polêmicas.
Quentin Tarantino ("Tempo de Violência") corre por fora. É um jovem diretor, em seu segundo filme, e representa a integração dos independentes do Sundance Festival à estratégia da indústria norte-americana de conquista de mercado. Não é pouco, num momento em que a produção hollywoodiana dá visíveis sinais de fadiga.
Woody Allen ("Balas Sobre a Broadway") é a tradição: é autor, tem prestígio, é nova-iorquino. Krzysztof Kieslowski ("A Fraternidade É Vermelha") é o estranho no ninho: um polonês radicado na França, com mais sucesso de estima do que bilheteria. Sua indicação tem a vantagem de agradar a Europa, mas seu perfil é muito próximo ao de Woody Allen.
A paixão, este ano, está muito mais na escolha dos prêmios de melhor ator e atriz. Será que Tom Hanks repete a façanha de Spencer Tracy em 1937/38 e ganha dois Oscars seguidos? A concorrência é favorável: para John Travolta a indicação já é uma vitória e uma ressurreição; Morgan Freeman e Paul Newman já perderam em papéis muito melhores. Mas a maioria pode achar que dois Oscars seguidos é encher muito a bola de Tom.
Entre as atrizes, Jodie Foster é atualmente mais ou menos o que a Mangueira é para as escolas de samba do Rio: sempre tem chance. Mas se a Academia premiar Jessica revolve dois problemas de uma vez: 1) redime-se de todas as vezes que a passou para trás; 2) ela está um arraso em "Céu Azul".
Restam os coadjuvantes. Aqui, a situação seria interessante caso ganhassem Uma Thurman e Martin Landau. Seria uma forma indireta de homenagear dois ausentes da festa, evocados nos respectivos filmes: Anna Karina —a ex-musa de Godard que inspirou a composição de Thurman— e Bela Lugosi, cujo papel é interpretado em "Ed Wood" por Landau. Magnificamente, ao que se diz.

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