São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 1995
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Capital estrangeiro quer maior participação no sistema bancário

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Banco de Boston e da ABBI (Associação Brasileira de Bancos Internacionais), Henrique de Campos Meirelles, afirma ter encontrado o argumento definitivo em favor do ingresso de novos capitais estrangeiros no setor bancário.
Ao participar há dias de um debate sobre o tema, em Brasília, um representante das pequenas e médias empresas disse que mais dinheiro disponível significaria crédito mais fácil e mais barato.
O capital nacional não possui reserva de mercado e bancos estrangeiros se instalam no Brasil desde os tempos do Império.
Há hoje no Brasil 61 bancos estrangeiros ou com participação de capital externo. Eles somam 14,6% dos depósitos.
A novidade está na possibilidade novos bancos estrangeiros participarem dos leilões de privatização de bancos federais, como o Meridional, ou então, se for o caso, também de estaduais, como o Banespa ou Banerj.
"Somos favoráveis, desde que haja uma ordenação", diz Maurício Schulman, presidente da Febraban (Federação Nacional dos Bancos) e do conselho de administração do Bamerindus.
Duas das condições que ele menciona: que os bancos brasileiros tenham no mercado do qual essas instituições se originam as mesmas facilidades e que se dê preferência a novos capitais.
Em termos de conjecturas, João César Tourinho, diretor do Banco Europeu, diz que os novos estrangeiros tendem a não entrar no setor das instituições de varejo e optarem por segmentos especializados do mercado bancário.
Henrique Meirelles prevê, por sua vez, que cheguem "dez ou doze bancos de investimentos, meia dúzia de comerciais de atacado e um ou dois de alto varejo". Seriam no máximo 20 instituições num país em que já operam 222.
Não há nenhum levantamento sobre quanto dinheiro poderia entrar na economia ou quais seriam os investidores norte-americanos, asiáticos ou europeus.
O que geralmente se afirma é que eles trariam a oferta de novos produtos, acelerariam o processo de automação e, ao criarem novos empregos, neutralizariam em parte os efeitos do enxugamento dos quadros dos bancos a serem privatizados.
Outro consenso no mercado diz respeito ao desinteresse dos estrangeiros por uma fatia significativa das instituições públicas. Entre as federais, por exemplo, o Basa (Banco da Amazônia) não é objeto de nenhuma cobiça, o mesmo ocorrendo com pequenos bancos estaduais do Nordeste.
Outro tema corrente dos prognósticos está na maneira com que as instituições seriam colocadas à venda. Caso o Banespa seja uma delas, por exemplo, é óbvio que interessaria ao mercado a venda em separado das agências instaladas no exterior. Elas seriam de interesse dos bancos nacionais.
Há, por fim, todo um leque de cenários que se abre quando está em jogo a forma de participação desses novos capitais. Certos bancos desejarão controlar as instituições que comprarem ou criarem. Outros terão o interesse em entrar no mercado como sócios minoritários de instituições nacionais já existentes.

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