São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 1995
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Trinta mil lojas argentinas fecham em três meses

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

A Câmara de Pequenas e Médias Empresas Argentinas divulgou ontem que 30 mil estabelecimentos comerciais fecharam no país nos primeiros 90 dias de 95. O comércio registrou uma queda de 50% em Buenos Aires e de 60% no interior do país.
As pequenas e médias empresas são as mais afetadas pela recessão, agravada a partir da desvalorização do peso mexicano.
Em Buenos Aires, entre 20% e 30% dos imóveis de locação comercial estão desocupados, segundo a Associação das Imobiliárias.
A falta de liquidez (disponibilidade em moeda corrente ou posse de valores conversíveis rapidamente em dinheiro) no sistema bancário afeta as pequenas e médias empresas, que não contam com a agilidade das grandes.
A Câmara de Pequenas e Médias Empresas realizou protesto ontem contra o ministro Domingo Cavallo (Economia). A entidade quer linhas de financiamento e programas de estímulo ao setor.
Cerca de 70% do total de empregos no país são gerados pelas pequenas e médias empresas, segundo informa a entidade do setor.
O Ministério da Economia alega que o projeto de desregulamentação para estas empresas, aprovado recentemente pelo Congresso, reduzirá os custos trabalhistas.
As novas regras reduzem o pagamento de encargos, ao permitir várias modalidades de contratação temporária, pagamento parcelado do 13º salário e diminuição da carga horária.

Exemplo
Apesar de Cavallo ter feito apelos para que não houvesse repasse aos preços do aumento do IVA (Imposto sobre Valor Agregado), o próprio governo deu exemplo contrário a isto.
Já no próximo mês, as contas telefônicas virão com um reajuste de 4,5%. O argumento do governo é a elevação de 18% para 21% da alíquota do IVA, principal ingrediente do pacote fiscal de Cavallo.

Fundo de socorro
O presidente Carlos Menem assinou decreto ontem à noite criando o Fundo Fiduciário de Mobilização Bancária no valor de US$ 3 bilhões —recursos relativos a empréstimos externos que o governo espera para a próxima semana.
A tarefa deste fundo é comprar, vender ou transferir ativos, inclusive imóveis e carteiras de créditos, dos bancos em dificuldades.
O próprio Banco Central estima que existam 80 bancos com problemas de liquidez ou solvência (capacidade de pagar os compromissos em dia).
O fundo será comandado pelo secretário de Finanças, Bancos e Seguros, Roque Maccarone.
O setor privado também terá representantes. O mais cotado é o empresário Enrique Folcine, sugerido pelos bancos locais e grupos industriais que emprestaram US$ 1 bilhão ao governo Menem, mediante a compra de bônus do Tesouro.
O decreto presidencial, que será regulamentado nos próximos dias, prevê uma modalidade de seguro obrigatória para todas as instituições financeiras. Este seguro será pago pelos próprios bancos e garantirá até um limite máximo de depósitos, que ainda será fixado.
Na prática, este fundo coordenará a compra e venda de bancos que estão praticamente quebrados, além da fusão e fechamento de instituições.
O governo argentino contratou assessoria do ex-secretário do Tesouro norte-americano, Nicholas Brady, para o processo de reordenamento do sistema bancário.

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