São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 1995
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Despreparo prejudica SBT

SÉRGIO DÁVILA
DA REVISTA DA FOLHA

Transmissão de Oscar pela TV é como uma caixa de bombons. Você nunca sabe o que vem pela frente. A do SBT, na segunda-feira, alternou bons bocados (com Rubens Ewald) a pedaços indigestos (Eliakim Araújo e equipe).
Os trunfos da emissora —a segurança informativa do crítico Rubens Ewald, a exclusividade da exibição no país, câmera e repórter brasileiros em Los Angeles— acabaram embaçados pelo despreparo total do resto do time.
E não foi por culpa da Academia. Estava agradável esta 67ª entrega, com menos peruagem, pouco exagero. Até pela presença de David Letterman como mestre de cerimônias, um mérito à parte.
Vários pontos altos marcaram a estréia do apresentador. Um deles, sua tradicional e hilária lista "top ten". No caso, de itens que não ganhariam nada naquela noite (um deles excluía filmes que tivessem qualquer combinação de "Polícia" ou "Academia" no nome).
Igualmente divertidos seus clipes com motoristas de táxi e com atores famosos. A gozação com os nomes Uma (Thurman, atriz) e Ophra (Winfrey, a Hebe afro-americana), presentes na platéia.
As cutucadas que deu em Schwarzenegger ("'Eat drink man woman' é o que ele falou a sua mulher no primeiro encontro"). As brincadeiras com Spielberg e seus novos parceiros ("é impressionante o que esses meninos podem fazer com um sonho. E oito bilhões de dólares").
Letterman improvisou na maioria das vezes. Contrastou com os outros apresentadores da noite, que liam suas falas no teleprompter (com exceção de Pernalonga e Patolino, de longe os melhores).
Enquanto isso, no Brasil...
As entradas do repórter Arnaldo Duran, de Los Angeles, eram desastrosas: enquanto na tela aparecia Tom Hanks, Duran falava "olha a Sharon Stone chegando!". Na tela, Schwarzenegger e Travolta; no áudio, "ih, quanta gente!". Na tela, Winona Ryder; no áudio, "cadê dona Winona? Ainda não passou pelo 'estrelódromo"'.
Ewald, do estúdio, informava mais que Duran in loco. O crítico fez boas análises de bastidores, retrospectos de carreiras, filmografias de diretores.
Mas, sozinho, não segurou a onda. Não obstante Duran, havia o tradutor. Por sua boca, atriz coadjuvante virou atriz de apoio; talented (habilidoso), era talentado; os filmes "Pulp Fiction" e "Oito e Meio", respectivamente, "Pulp Action" e "Uma Maçã e Meia".
Por fim, razão seja dada a Leila Cordeiro: Eliakim Araújo fala demais. Atrapalhou Rubens Ewald sempre que pôde. Fazia perguntas do quilate "Qual a importância de ser indicado ao Oscar para a carreira de um ator, Rubens?". Ou disparava frases como "eis aí, os 33 centímetros de alegria" (referindo-se à estatueta).
As repórteres, Leila Cordeiro em São Paulo e Leda Nagle no Rio, completaram o quadro: pareciam estar em bailes de salão. Nagle fez questão de apresentar um ator travestido de Travolta ("você é o John Tá de Volta, né?").
Foi duro.

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