São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 1995
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Sérvios da Bósnia ameaçam atacar as forças de paz das Nações Unidas

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Radovan Karadzic, o líder dos rebeldes sérvios que lutam contra a independência da Bósnia, ameaçou tratar as forças de paz da ONU como " inimigos" se elas pedirem ataques aéreos da Otan contra violadores do cessar-fogo na ex-república iugoslava.
" Se as Nações Unidas pedirem à Otan que atue contra nós, se agirem como aliados dos muçulmanos, então passaremos a considerá-las como o inimigo", afirmou.
A ameaça foi feita enquanto se realizava em Zagreb (Croácia) uma reunião entre o general Rupert Smith, comandante das forças da ONU na Bósnia, e o subsecretário-geral das Nações Unidas Yasushi Akashi.
Eles voltaram a discutir como e quando pedir apoio aos aviões militares da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), mas nenhuma decisão foi anunciada.
Na segunda-feira, em meio a ataques da artilharia sérvia contra Tuzla, Bihac e Sarajevo, áreas que a ONU declarou "protegidas", um porta-voz das Nações Unidas chegou a afirmar que a Otan mandaria seus aviões para bombardear os atacantes, mas nenhum ataque foi feito.
Os sérvios e o Exército bósnio, controlado pelos muçulmanos, continuaram a combater ontem em pelo menos três frentes.
Nas colinas de Majevica, perto de Tuzla (nordeste), os muçulmanos prosseguiram sua ofensiva iniciada há duas semanas.
O objetivo do Exército é tomar a torre de comunicação de Stolice, estratégica para os sérvios.
Segundo o tenente-coronel sueco Osten Kvarnloif, da ONU, os muçulmanos estão tentando evitar que a torre seja destruída, como ocorreu na semana passada com outro centro de comunicações sérvio na região, o do monte Vlasic.
Um oficial bósnio afirmou que as duas torres controlam 90% das comunicações militares dos sérvios e sua tomada deixaria os rebeldes "cegos e surdos".
Os sérvios também mantiveram seu bombardeio de artilharia contra as cidades muçulmanas sitiadas de Tuzla, Bihac e Gorazde, todas elas na lista de "áreas protegidas" das Nações Unidas.
Em Gorazde (leste), franco-atiradores sérvios feriram duas mulheres muçulmanas. A capital bósnia, Sarajevo, também registrou atividade de franco-atiradores, com dois mortos e três feridos.
A ponte aérea humanitária para abastecer Sarajevo de alimentos e remédios completou mil dias de atividade. A cidade está cercada pelos sérvios desde o início da guerra, em abril de 1992, e seus acessos por terra estão bloqueados.
A ONU contabilizou 12.195 vôos para a cidade, com 151 mil toneladas de medicamentos e comida para as 440 mil pessoas sitiadas. Houve 260 ataques contra aviões que chegavam ou partiam.
Na vizinha Croácia, os sérvios bloquearam pela terceira noite consecutiva a passagem de um comboio de 22 caminhões e 8 ambulâncias organizado por entidades não-governamentais de vários países com destino a Bihac, no lado bósnio da fronteira.
Segundo a ONU, 80% dos bebês que nascem em Bihac morrem nos primeiros dias de vida devido à falta de alimentos e remédios.

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