São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 1995
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O prejuízo é dos alunos

Está em curso mais uma greve da rede estadual de ensino de primeiro e segundo graus. Os professores reivindicam um piso salarial de três mínimos, R$ 210,00. O simples fato de as pessoas que teoricamente educam os jovens paulistas terem de fazer uma greve pleiteando uma quantia tão diminuta revela que existe algo terrivelmente errado com a política educacional paulista, como de resto com a brasileira.
O governo, como sempre, afirma que não tem condições de atender à reivindicação. É bastante possível, tamanha foi a sanha gastadora das administrações anteriores.
O fato é que, como ocorreu nas paralisações prévias, corre-se o risco de professores e governo entrarem num impasse prolongado no qual os únicos prejudicados são os alunos, justamente aqueles que não têm culpa alguma.
Os professores estão certos em exigir salários minimamente dignos. Erram ao não discutir a qualidade do corpo docente que hoje ministra um ensino menos do que sofrível, graças a uma série de distorções que se acumularam ao longo dos anos. O espírito de corpo sempre foi tão forte que nunca objetou seriamente ao fato de um verdadeiro exército de pseudoprofessores que não dão aulas ter-se encastelado na rede pública.
Quanto ao governo, deve-se acreditar que ele de fato atravessa dificuldades financeiras. Há que se criticar, porém, a falta de uma política consistente e de longo prazo para a educação fundamental.
Neste ponto, há que se reconhecer que o governo estadual, recentemente empossado, pouco pôde fazer. Administrações de quatro anos normalmente não se interessam por projetos cujos frutos só seriam colhidos por seus sucessores. Assim, a educação acabou sendo sempre relegada ao segundo plano.
Seria ilusório acreditar que as coisas vão mudar se a população de fato não cobrar a implementação e seguimento contínuo de uma verdadeira política educacional. Mas, enquanto essa política não for formulada e implementada, os alunos assistirão todos os anos à repetitiva e insolúvel queda-de-braço entre professores e governo.
Já é hora de que alguma coisa seja feita pelo ensino básico. É preciso que existam bons professores que dêem aulas e recebam condignamente por isso.

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