São Paulo, segunda-feira, 3 de abril de 1995
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Estudante acusa PM de tortura

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O estudante Carlos da Silva, 19, afirma que membros da Polícia Militar de São Paulo mantêm um sítio, em Parelheiros (zona sul), usado para sessões de tortura.
A denúncia foi feita na sexta-feira à reportagem da Folha e à Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos, em um leito do hospital da Osec, em Santo Amaro (zona sul). Carlos está internado desde 25 de fevereiro, dia em que afirma ter sido baleado por dois soldados da PM e torturado por quatro. A Secretaria de Segurança Pública afirma que vai apurar as denúncias (leia texto ao lado).
Carlos, que não tinha passagens pela polícia, roubou um Verona, em Santo Amaro. "Era para bagunçar no Carnaval no Guarujá."
Perseguido por um Gurgel da PM, o Verona capotou à 1h30 do dia 25, na rua José Nicolau de Lima, em Santo Amaro (zona sul).
O companheiro de Carlos, que estava com uma arma, fugiu. "Me entreguei aos policiais. Assim que tirei o cinto de segurança, botei as mãos para cima e eles atiraram."
Ele levou quatro tiros no tórax e afirma ter sido levado a um sítio em Parelheiros. "Lembro que os policiais entravam numa casa para procurar armas. Queriam saber qual colocariam no meu corpo, para dizer que era minha", recorda.
Carlos teve o pênis parcialmente esmagado, segundo ele por golpes de cassetete. Seus dedos foram pisoteados. Devido aos golpes que recebeu na cabeça, ainda sofre ataques de amnésia. "Esperamos um mês para denunciar porque ele simplesmente não conseguia falar", diz o irmão José da Silva.
A diretora do hospital da Osec, Cintia Turella, afirma que o rapaz está fraco, mas não apresenta problemas psicológicos.
Carlos afirma que até a semana passada era mantido algemado e acorrentado, por um investigador de Polícia Civil, no leito do hospital da Osec. "Eles tiravam a corrente de dia, para a minha família não ver", diz.
Hoje, membros da Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos e do Núcleo de Estudos da Violência da USP se reúnem com a Polícia Militar para discutir o caso.

Assassinato
No sábado à noite o ajudante de cozinha Messias Aparecido da Costa também apresentou denúncia contra policiais. Ele afirma que seu amigo Humberto da Silva foi morto na quinta-feira por um aspirante a oficial da Polícia Militar e por um soldado no carro nº 01.168 (leia texto ao lado).

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