São Paulo, segunda-feira, 3 de abril de 1995
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'Pisaram na cabeça e nas mãos'

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Carlos da Silva falou com a Folha na tarde de sexta-feira. A conversa foi gravada no hospital da Osec, onde ele está internado, e acompanhada pela pesquisadora Sandra Carvalho, da Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos. Seu irmão, José da Silva, esteve presente e também deu um depoimento. Leia abaixo, os principais trechos:

Carlos da Silva: "Era Carnaval, eu e um amigo roubamos um táxi para bagunçar, para ir pro litoral no Carnaval. Demos umas voltas. Um Gurgel da PM começou a perseguir a gente. Eu estava sem arma, estava guiando. O carro capotou. Eu tirei o cinto. Aí eles disseram: 'Sai com a mão para cima'. No que eu saí, e eles atiraram.
Aí ficaram dando umas voltas comigo, no carro. Fui levado para um sítio, que diziam ser deles. Era um lugar só para torturar pessoas. Fui chutado. Pisaram na minha cabeça, nas minhas mãos, dizendo que eu ia morrer porque era bandido. Deram tiros perto da minha cara para me apavorar. Passavam de raspão no rosto. Eu vi quando eles foram para uma casinha. Diziam que ali existiam armas para colocar comigo, porque eu não tinha nenhuma. Eram quatro policiais.
Eu fiquei largado no chão. Ouvi quando os quatro policiais se reuniram e disseram: 'Se a gente soltar ele, vai dar problema, porque ele está com marcas de algema nos pulsos'. Aí um policial me disse: 'Vamos te socorrer, mas você tem que guardar uma coisa: lembra que hoje é a data do teu nascimento, você está nascendo de novo agora, dia 25 de fevereiro."
José da Silva: "Meu irmão ficou oito dias em coma e depois foi levado de volta para o 25º DP. Começou a morrer, entrou em coma, voltou para o hospital. Mas os investigadores de plantão acorremtavam e algemavam elle na nossa ausência. Somos uma família honesta. Impediam nossa entrada no hospital quando bem queriam. Nossa advogada tem um estilete que colocaram na cama do meu irmão, falando que era para ele se matar, porque iria morrer mesmo.

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