São Paulo, segunda-feira, 3 de abril de 1995
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Dos males o menor

LUÍS NASSIF
DOS MALES O MENOR

Não havia saídas ótimas para a crise da balança comercial brasileira.
Foram tomadas medidas de apoio às exportações, com dois inconvenientes.
O menor, é o tempo que levam para surtir efeito. O maior, é que não se tinha a menor certeza se de fato surtiriam efeito.
Essa indefinição remetia o câmbio para o pior dos mundos.
As medidas vinham em conta-gotas, levando exportadores e investidores a reterem seus dólares, enquanto aguardavam a próxima medida.
A consequência foi a ampliação do déficit diário de fechamento de câmbio -um indicador instantâneo do comportamento do mercado.
O governo necessitava de uma medida forte, que pudesse ser lida como definitiva pelos investidores.
Havia três caminhos a seguir, todos com contra-indicações.
O primeiro seria a decretação de uma maxidesvalorização do câmbio.
Teria a vantagem de impedir artificialismos no sistema de preços de produtos internacionalizados, preservar a abertura da economia e limitar a ação dos oligopólios.
Mas afetaria o sistema de preços internos, aumentaria a inflação e tornaria inevitável a reindexação de salários e de contratos.
O único instrumento de que disporia o governo para impedir a escalada da inflação seria aprofundar a recessão.
Não é uma hipótese descartada, se os demais instrumentos não surtirem efeito.
A segunda consistia em identificar os produtos de maior peso nas importações e estabelecer cotas de importação.
O que demandaria uma fiscalização complexa e o uso de medidas arbitrárias para definir os beneficiários.
A terceira alternativa foi esse aumento das alíquotas de cem produtos selecionados.
Os inconvenientes também são óbvios.
Passou a todo mundo o indefectível cheiro de retrocesso na abertura e criou riscos evidentes.
Se os produtores internos tentarem se valer do fechamento para reajustarem seus preços, o Plano Real estará morto.
Será necessário, primeiro, o governo fazer valer todos seus instrumentos de contenção de abusos.
Depois, manter permanentemente acesa a possibilidade de reduzir novamente as tarifas a qualquer momento.
Caso contrário, o acomodamento fará com que as empresas inflem novamente sua estrutura de custos.

Mea culpa
A vontade enorme de ver este país dar certo, a necessidade de ser cada vez mais exigente com a coisa pública, para evitar retrocessos, e o torvelinho diário, inimigo da reflexão e da auto-crítica, faz com que, por vezes, nos tornemos excessivamente rigorosos nos julgamentos dos atos públicos individuais.
Não se investe contra a honra alheia.
Mas muitas vezes se incorre em exigências descabidas em relação às limitações dos próprios cargos dos criticados, muitos deles pessoas de alto espírito público.
É o excesso de vontade de ver o país dar certo.

Sem registro
Morreram, quase ignorados pela opinião pública, duas figuras relevantes na história do país.
No Pará, aos 90 anos, Valdemar Henrique -autor de "Tamba Tajá" ("Certa vez de montaria/ eu desci o Paraná...") e "Minha Terra" ("Este Brasil tão grande e amado/ é meu país idolatrado...")-, um dos pilares na formação da mais rica música popular do planeta.
Em São Paulo, Euzébio Rocha, autor da lei que resultou na criação da Petrobrás.

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