São Paulo, segunda-feira, 3 de abril de 1995
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Parceria nos resultados, um novo caminho

JOSEPH COURI

Tenho salientado que a idéia-força da participação nos resultados, que prevê a construção negociada de um novo patamar produtivo e distributivo, representa uma potencial revolução nos modos de relacionamento entre empresários e trabalhadores.
Em boa hora encampada pelo governo federal, que vem mostrando à sociedade sua importância e originalidade, a medida precisa ser agora melhor compreendida por todos os políticos, já que proximamente a regulamentação da participação nos resultados e lucros deverá sair do terreno das medidas provisórias e entrar na pauta das discussões legislativas.
Os mais diretamente afetados e interessados -empresários e trabalhadores- vêm demonstrando sua capacidade de rápida compreensão da mudança.

Metodologia
Pesquisas, junto a microempresas e empresas de pequeno porte revelam que é bastante alta a propensão a que essa metodologia de participação nos resultados seja implantada universalmente, em lugar da quimérica e complicada participação nos lucros.
Esta, como um fantasma, habitou a Constituição de 1946 e seguintes, sem nunca ganhar corpo ou consistência, até chegar à convivência atual com a nova idéia de resultado como definidor do padrão de distribuição dos ganhos.

Mudanças
A principal mudança, parece-me, vem de um veio político com raízes sociológicas.
Na prática, trata-se de alterar, superando-o, o antigo conceito, nem sempre explicitado, de que as relações trabalhistas seriam necessariamente conflituosas.
Nesse novo desenho do relacionamento entre as duas partes, ao sentarem-se juntos e dialogarem, buscando fórmulas para incremento da produção e instituindo indicadores para a distribuição dos resultados melhorados, forma-se a parceria em bases cooperativas.
No esforço efetivo para conhecimento da realidade e possibilidades da empresa, num processo de parceria, entrarão aspectos que vão desde os cuidados com o esforço produtivo até a atenção compartilhada para com as alterações tecnológicas necessárias, as vicissitudes do mercado consumidor, as tensões no relacionamento com os fornecedores etc.
Enfim, as relações antes percebidas como conflituosas são recondicionadas por uma visão de sistema, em um novo ordenamento no qual a ênfase não está no "eu" e "eles", mas no "nós".

Parceria
Esse novo cenário deverá vir a gerar uma nova consciência sobre o sistema produtivo, que passará a ser visto como o terreno da parceria possível e passível de ser melhorada.
Para estar na moda, pode-se dizer que se substitui o "nhenhenhém" pelo diálogo objetivo, em que cada um é forçado a entender o ponto de vista do outro e levado a negociar.
Por tudo isso, causa profunda estranheza a ocorrência de manifestações isoladas tentando "melar o jogo", levantando preocupações irrelevantes quanto às possibilidades da participação nos resultados.
A mais estranha delas, sem dúvida, partiu do Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo), que em boletim de divulgação chegou a dizer que a medida traria um acréscimo de trabalho para as pequenas empresas, como se o estabelecimento de metas e de critérios de distribuição de resultados fosse um bicho de sete cabeças.

Chave
Os órgãos de representação -sindicatos e associações empresariais-, mais afeitos à realidade concreta dos micros e pequenos empresários, já que deles diretamente constituídos, não enxergam dificuldades na implantação da nova metodologia.
Ao contrário, entendem que ela é a chave para um novo estágio de parceria na relação com os empregados.
O segmento político que representa os micro e pequenos empresários estão em comunhão com os mais modernos representantes dos trabalhadores no objetivo de criar todas as condições para que a participação nos resultados se amplie e seja compreendido por toda a sociedade brasileira, deixando para trás visões cartoriais e arcaicas.

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