São Paulo, segunda-feira, 3 de abril de 1995
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Ecstasy chega ao Brasil ainda 'misterioso'

ANTONINA LEMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O estudante P., 23, passa a semana dividido entre o trabalho e a faculdade. Nos fins-de-semana sua vida muda. Há oito meses ele toma ecstasy (mistura de anfetamina com alucinógenos) para se sentir "feliz" e "emotivo".
P. é um dos primeiros consumidores regulares da droga no país. O ecstasy surgiu na Inglaterra em 89, mas só chegou ao Brasil há poucos meses.
"É um horror. As pessoas ficam acabadas", relata a modelo L., 20, que usou a droga quatro vezes. O psiquiatra Dartiu Xavier, do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes do Hospital das Clínicas), confirma: "O principal problema é que ninguém sabe ao certo o que o ecstasy contém e o que pode causar".
P. conta que não tem dificuldade em comprar a droga. Ele paga cerca de R$ 40, enquanto na Grã-Bretanha a dose custa o equivalente a R$ 5.
Assim como na Grã-Bretanha, o ecstasy, um comprimido que deixa o usuário "ligado" por várias horas, se popularizou entre frequentadores de casas noturnas.
O Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos) ainda não tem registrada nenhuma apreensão de ecstasy e não há notícia de fabricantes no país.
O psiquiatra Xavier considera que, além do ecstasy, outra droga tem consumo crescente: o ácido.
D., 22, consumidor da droga há três anos, diz que tem comprado ácido com facilidade. "Nunca foi tão simples conseguir", diz.
A droga é composta principalmente por anfetaminas (moléculas usadas em remédios como moderadores de apetite). Segundo o delegado José Grimaldi, do Denarc, já há uma considerável produção nacional de ácido.
Ele acha que a droga está sendo fabricada com anfetaminas que devem estar sendo furtadas de laboratórios farmacêuticos e hospitais.
A composição química da droga não contém necessariamente ácidos. A droga muitas vezes vem misturada com ácido lisérgico (LSD), daí o nome.
Segundo Xavier, o consumo da anfetamina é considerado preocupante. Não existem estatísticas sobre o tema em São Paulo.
O psiquiatra explica que o ácido tem efeito semelhante ao da cocaína. "A pessoa se sente 'ligada' , mas corre o risco de sofrer uma parada cardíaca ou se tornar dependente", diz.
A diferença entre os dois é o preço -a cocaína é mais cara. Um comprimido de ácido custa cerca de R$ 20 no Brasil. Para sentir os efeitos, a pessoa só precisa de um quarto da droga.

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