São Paulo, segunda-feira, 3 de abril de 1995
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Vietnã abre economia e tenta ser um 'tigre asiático'

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL AO VIETNÃ

O Vietnã, antiga fortaleza do comunismo, se esforça para terminar 1995 com uma das economias mais atrativas do Sudeste Asiático para o investidor estrangeiro.
Decepcionado com o atual ritmo de investimentos, pois apenas 32% dos recursos prometidos já foram desembolsados, o governo planeja reformar leis para facilitar a entrada de recursos e aumentar a competitividade na disputa por capitais externos com vizinhos como Tailândia e Filipinas.
Encravado na região do planeta cujas economias crescem mais rápido, o Vietnã optou pelo capitalismo apenas em 1986. Daquele ano até 1991, registrou 5,2% como média anual de crescimento econômico. Em 1993 e 1994, as taxas ficaram em 8,1% e 8,8%.
O Vietnã entra com cerca de 20 anos de atraso na corrida para se transformar num "tigre asiático, ou seja, país industrializado, voltado para as exportações e com sistema político centralizado. No caso vietnamita, o poder repousa nas mãos do Partido Comunista.
Num ranking de renda per capita de 173 países feito pela ONU, o Vietnã aparece na 150ª posição. São US$ 220 anuais. Vizinhos, como a Tailândia e a Indonésia, também candidatos à condição de "tigres, já contabilizam US$ 2.085 e US$ 645, respectivamente.
Apesar das hesitações provocadas pelas turbulências na extinta URSS (os comunistas vietnamitas temiam sofrer o mesmo destino dos camaradas soviéticos), o Vietnã adotou sua lei de investimento estrangeiro em 1987, 20 anos depois da Indonésia. Desde então, até o ano passado o país já aprovou 1.200 projetos, que equivalem a investimentos de US$ 11,249 bilhões.
No entanto, dos US$ 11,249 bilhões aprovados por Hanói, somente US$ 3,585 bilhões foram implementados. "Achamos que o ritmo está lento, deveríamos atrair mais investimentos e mais rápido, comenta à Folha Hoang Ngoc, vice-diretor do Departamento de Investimentos Estrangeiros do Ministério do Comércio.
Cercado pela amplitude da sala de reuniões do ministério, Hoang Ngoc troca o tom eufórico do relato sobre investimentos por um ar de decepção. Alinha então os obstáculos: infra-estrutura raquítica, falta no governo de funcionários versados nos mecanismos capitalistas e efeitos do embargo comercial dos EUA, levantado apenas em fevereiro de 1994.
Mas há outros problemas. A legislação, filha de um sistema ainda controlado por comunistas, corresponde a um intrincado labirinto burocrático. O governo concorda com o diagnóstico e anunciou para este ano um esforço para simplificar leis e criar mecanismos atraentes para os investidores. Entre as prioridades está a abertura da primeira Bolsa de Valores, que deverá ser na Cidade Ho Chi Minh, o coração econômico do país.
O Vietnã quer lubrificar os mecanismos que atraem o capital estrangeiro a fim de embolsar US$ 20 bilhões até o ano 2000. Segundo cálculos do governo, esse fluxo corresponde a um dos pilares necessários para o país atingir, no final do século, uma renda per capita de cerca de US$ 400.
A estratégia vietnamita também aposta no crescimento das exportações. No ano passado foram vendidos US$ 3,6 bilhões, um aumento de 21% frente a 1993, mas volume ainda insuficiente para evitar o déficit de US$ 900 milhões na balança comercial.
Entre 1996 e 2000, o governo planeja manter um crescimento anual de 20% em suas exportações, hoje dominadas por petróleo, arroz e têxteis. E a vizinhança, recheada por economias em expansão, substitui os antigos parceiros comerciais do desaparecido bloco soviético.
Os países da região Ásia-Pacífico, liderados por Japão e Cingapura, respondem por mais de 70% do comércio exterior do Vietnã, num vaivém que cresce a uma velocidade de 30% ao ano.
A lista dos principais investidores no Vietnã também evidencia a integração regional. Os quatro primeiros são os "tigres (Taiwan, Hong Kong, Cingapura e Coréia do Sul) e o quinto, o Japão. Este lidera o ranking de doadores. Para 1995, o Vietnã espera uma ajuda de US$ 2 bilhões, com US$ 650 milhões saindo do Japão.
Na lista de doadores, o segundo lugar vai para o Banco Mundial. Prometeu US$ 450 milhões, destinados principalmente a melhorar a precária infra-estrutura do Vietnã, país devastado por uma guerra contra os EUA, pelo isolamento imposto por Washington e por décadas de administração ineficiente.
O Vietnã dispõe de apenas 0,47 telefone por 100 habitantes, enquanto a China tem 1,3 e a Malásia, outro candidato a "tigre, possui 12 linhas por pessoa. A economia vietnamita também sofre com suas estradas, uma rede de 105 mil quilômetros, das quais apenas 7,1% são consideradas como "em condições padrão.
Se a pobre infra-estrutura pode dificultar as reformas capitalistas e assustar investidores, a oferta de uma mão-de-obra barata atrai. Nas empresas estrangeiras, o salário mínimo soma US$ 35, contra US$ 60 na Indonésia. O governo vietnamita mostra ansiedade na hora de criar postos de trabalho e aplacar o desemprego que, segundo dados não-oficiais, já atinge 30%.
Também a seu favor na guerra por investimento, o Vietnã oferece uma estabilidade política que contrasta com as imagens frequentes de intervenções militares nas Filipinas ou na Tailândia. E, diferente da China, a sociedade vietnamita conserva uma tradição enraizada de convívio com a cultura ocidental, resultado de seis décadas de colonialismo francês.
O novo capitalismo vietnamita já atraiu mais de 50 bancos, entre eles o Citibank e o Bank of America. Na indústria automobilística, a alemã BMW e a japonesa Mitsubishi se instalaram em joint ventures e se juntaram a Daimler-Benz, Toyota, Ford e Daewoo.
Já fincaram também raízes em solo vietnamita empresas como Coca-Cola, Xerox, Sony e General Eletrics. Trata-se de uma ofensiva para garantir espaço numa economia que tenta decolar rumo ao ambicioso objetivo de se tornar um "tigre" no ano 2030.

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