São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Favorito, Congresso ameaça golear governo

GABRIELA WOLTHERS; DENISE MADUEÑO; CYNARA MENEZES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pela primeira vez na história do Brasil, o governo está torcendo para sofrer uma derrota para o Legislativo.
A disputa, no entanto, não vai acontecer na casa do "adversário" (o plenário do Congresso), sim em um campo de futebol.
Está marcada para hoje, às 10h, na Granja do Torto (residência oficial em Brasília utilizada para reuniões ministeriais), uma "pelada" entre o Executivo e Legislativo.
Em tom de brincadeira, o presidente Fernando Henrique Cardoso passou um recado aos ministros e assessores próximos que estarão em campo: os "executivos" devem perder.
O principal objetivo do jogo é tentar melhorar as relações entre os dois Poderes.
Por isso, segundo a avaliação de FHC, nada melhor do que deixar os "legislativos" dominarem a partida.
Outra orientação do presidente: os "executivos" devem ficar quietos se levarem caneladas, cotoveladas, puxões e pontapés.
Como um bom "cartola", FHC manda no time, mas não vai se arriscar no corpo-a-corpo do jogo -dará apenas o pontapé inicial da partida e entregará flâmulas aos técnicos das equipes com os dizeres "Reforma já".
A torcida contará com a presença de um "ex-cartola" -o ex-presidente Itamar Franco afirma que vai assistir à partida, mas promete não mais influir no jogo.
Se depender de FHC, o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, não atuará como goleiro. O presidente prefere que ele seja deslocado para a "linha de frente", local mais apropriado para o adversário extravasar sua raiva.
Mas a troca de posição não agrada aos "legislativos". O petista Tilden Santiago, 54, afirma que seu desejo é fazer um gol "bem no meio das pernas de Sérgio Motta".
Bem-humorado, o deputado considera que a "tática" de FHC de orientar a derrota dos "executivos" nada mais é do que desculpa: "Se eles mostrarem em campo a falta de entrosamento que têm na política, vai ser moleza", disse.
O time do Legislativo conta ainda com mais um petista, o deputado Paulo Paim (RS). Outros deputados do partido, como Jair Meneguelli (SP), Waldomiro Fioravante (RS) e Paulo Rocha (PA), que estavam escalados, alegaram compromissos nos seus Estados e não vão comparecer.
Segundo Paim, FHC está "adotando a tática correta" ao abandonar uma política "agressiva" com os parlamentares.
"Gosto de quem sabe driblar e não de quem quer ganhar o jogo na base da canelada", sintetiza o deputado, usando expressões do esporte para dar seu recado.
O time do Executivo contará com mais um ministro -Paulo Renato Souza (Educação). Sua posição não está definida. Pode ser gol, na defesa ou no ataque.
"Sou polivalente", diz. Rindo, afirma que joga bem em todas as posições. O técnico do time, Francisco Graziano, chefe de Gabinete de FHC, concorda com o adjetivo, mas não com a avaliação.
"Ele é um polivalente ao contrário -não joga bem em lugar nenhum", sintetiza o técnico, em meio a gargalhadas.
Os congressistas jogam juntos todas as semanas na casa do deputado Wigberto Tartuce (PP-DF), técnico do time. Já os "executivos" se reúnem pela primeira vez hoje. Além dos 11 jogadores escalados, o Legislativo tem mais seis parlamentares na reserva.
O Executivo só conta mesmo com os 11 escalados. Mesmo assim, poderá fazer algumas substituições. Eles jogarão "futebol society" -o campo de grama é menor e só precisa de sete "esportistas" em cada time.
O time do Legislativo só terá um representante do Senado -José Roberto Arruda (PP-DF). Mas ele não descarta a mudança de time, caso o governo dê vexame no primeiro tempo. "Como sou vice-líder no Senado, posso jogar no segundo tempo com o Executivo para dar uma ajuda", brinca o senador.

Colaborou CYNARA MENEZES, da Sucursal de Brasília.

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