São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Discurso petista lembra o de FHC

PAULO MOTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Em Quixadá, o prefeito Ilário Marques enviou à Câmara de Vereadores, em 23 de março último, a primeira parte de sua "reforma patrimonial", que pretende vender 300 imóveis pertencentes à cidade.
O hotel municipal de Quixadá, avaliado em R$ 250 mil, deve ser o primeiro imóvel a ir à venda. O prefeito diz que o dinheiro será usado na construção de casas populares.
Marques avalia que, apesar do recente aumento de 300% nos aluguéis dos imóveis municipais, o dinheiro arrecadado não cobre sequer as despesas com a manutenção dos mercados públicos.
A prefeitura dispõe de contas que mostram que se gastam R$ 2.000 mensais com luz, água, limpeza e segurança dos mercados e se arrecada apenas R$ 1.300,00 com os aluguéis.

Investimentos
Marques estima que poderá arrecadar entre R$ 1,2 milhão e R$ 1,5 milhão com a venda dos imóveis. A receita mensal da prefeitura é de R$ 300 mil.
Segundo o prefeito, além de multiplicar por 30 a capacidade de investimento da prefeitura, a verba arrecadada com as privatizações aumentará muito a capacidade de contrapartida da prefeitura em parcerias com outros órgãos financiadores.
"Poderemos, por exemplo, elaborar um pacote de obras, cujo orçamento seja de R$ 3 milhões, e pedir ao governo do Estado para que financie uma metade, pois a prefeitura financia a outra", diz.
Marques acha que o PT não pode ser contra as privatizações "por princípio". Para ele, se for do "interesse público", a privatização "é válida".
Perguntado se avisou seus eleitores, durante a campanha, que pretendia privatizar bens públicos se eleito, o prefeito diz que sim: "Já falávamos que era um absurdo a prefeitura necessitar de investimentos e, ao mesmo tempo, ser proprietária de imóveis que estavam a serviço da iniciativa privada".

Sem contradição
Para o prefeito de Quixadá, não há contradição entre o PT ser contra a privatização defendida pelo governo federal e ele querer vender bens da cidade em Quixadá.
"Na realidade, estamos fazendo é a desprivatização de um setor que é público. Trata-se de um patrimônio público que está a serviço do setor privado", diz o prefeito, argumento que deixaria os petistas um pouco confusos.
O prefeito admite que, "do ponto de vista conceitual", não há qualquer diferença entre o que ele quer para Quixadá e o que o presidente Fernando Henrique quer para o Brasil.
"O Estado precisa de recursos para financiamentos e os busca na privatização de seu patrimônio. O que a esquerda e o PT têm de discutir é o interesse público. Se, para defender o interesse público, for necessário privatizar, que se privatize", discursa, repetindo o raciocínio muitas vezes feito pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Se dependesse de Marques, o partido não teria assumido posição contra a quebra do monopólio (exclusividade) estatal nos chamados setores estratégicos, como telecomunicações e petróleo.
"Sou a favor da flexibilização (quebra do monopólio) em alguns setores estratégicos. A Petrobrás deve ser preservada enquanto empresa reguladora do mercado, mas que participe da competição", diz.
O prefeito não tem medo de estar comprando uma briga com o partido: "Este debate não está concluído dentro do PT", afirma.

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