São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Direção não vê prefeitos com 'bons olhos'
CARLOS EDUARDO ALVES
"É inegável que existe um incômodo justamente no momento em que o PT tenta deter a onda de privatizações de FHC", admite Gilberto Carvalho, secretário-geral do partido e integrante da corrente de "centro" da legenda. Carvalho é um dos petistas mais próximos de Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do partido. O dirigente diz que existe um esforço para que a discussão não gere uma nova crise no partido, mas que o assunto surgiu em hora imprópria. "Não dá para negar que não estamos vendo com bons olhos essa movimentação", declara Carvalho. Além da preocupação com o descompasso entre a crítica às privatizações reivindicadas por FHC e a tentativa de desestatização comandada por petistas, existe também o desconforto pela constatação de que a legenda não tem uma política clara sobre o assunto. O discurso petista tradicional é afiado na defesa do controle estatal nos chamados "setores estratégicos", o que, no momento, compreende basicamente petróleo e telecomunicações. No poder municipal, não há uma exata delimitação do que seria admissível privatizar sem ferir dogmas petistas. O azar do partido é que, pelo menos em Ribeirão Preto e Londrina, articula-se a transferência para a iniciativa privada de pelo menos uma parte das companhias telefônicas locais. "Mesmo não tendo a mesma importância estratégica que o monopólio estatal no país, a discussão sobre privatização de telefônicas locais tem uma simbologia grande", diz Carvalho. A direção petista iniciou negociações com os prefeitos de Ribeirão Preto e Londrina para tentar sustar a venda ou abertura de capital das telefônicas locais. A deputada federal Telma de Souza (SP) conduz a discussão com os prefeitos. Telma, ex-prefeita da cidade paulista de Santos, é a responsável pela Secretaria Nacional de Assuntos Institucionais do PT, que se dedica basicamente à relação do partido com as administrações petistas. Telma tenta minimizar a importância das privatizações. "Até onde sabemos, em todos os casos, o controle básico permaneceria nas mãos das prefeituras", diz. A deputada defende que as administrações do PT "flexibilizem" o controle acionário de estatais, mas que o poder decisório permaneça com as prefeituras. "A administração tem que manter bem mais do que 51% das ações", declara. Carvalho e Telma admitem que o caso mostra também a dificuldade de compatibilizar teoria e prática. "Às vezes, na gestão da máquina (administrativa), enfrentamos dificuldades que não enfrentamos na teoria", diz Carvalho. "O desafio é traduzir o discurso para as solicitações do cotidiano", afirma Telma. Texto Anterior: População pode pagar por melhoria em ruas Próximo Texto: Venda de ações de telefônica divide partido Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |