São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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'Prefiro emergência a histórias de paciente'

Clínica dirige PS do HC há 2 anos

DA REPORTAGEM LOCAL

A médica paulista Sueli Rodrigues Morano, 42, prefere o ritmo frenético dos prontos-socorros à rotina dos consultórios, que ela considera "enfadonha".
Sueli é clínica-geral e dirige o pronto-socorro (PS) do Hospital das Clínicas há dois anos.
"Já tive um consultório e desisti. Era chato ficar ouvindo a história do doente, os problemas emocionais. Prefiro a emergência. Aqui ou se salva o paciente ou ele morre e pronto."
Apesar do pouco tempo na direção do PS, Sueli conhece bem a rotina e os problemas do local, onde trabalha desde 1979.
"Comecei como residente e não saí mais. Fui convidada para trabalhar na enfermaria, mas preferi o PS porque gosto da dinâmica daqui."
Segundo ela, para trabalhar em PS o médico tem que ser agitado e dinâmico. "O trabalho é muito mais árduo que em consultório. A gente não pára."
A médica é casada com um psiquiatra e tem dois filhos, de 14 e 12 anos. Ela dedica pelo menos oito horas diárias ao hospital e recebe um salário de aproximadamente R$ 2.000,00.
"Sei que poderia ganhar mais num consultório particular, mas gosto da rotina daqui. Meu marido já se acostumou com meu trabalho. Ele acha que sou louca de gostar daqui."
Apesar de adorar a profissão, Sueli não gostaria que os filhos optassem pela medicina. "É um trabalho lindo, mas a gente perde a melhor da época da vida se matando de estudar."
A médica diz que já se acostumou a lidar com a morte. "No meu primeiro ano de residência perdi um paciente de 13 anos que teve uma parada cardíaca depois de uma crise asmática. Foi muito sofrido. Na hora, achei que o erro era meu. Hoje sei que fiz o que pude. Não sou Deus. Se fosse, ninguém morreria."(DF)

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