São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Bombeiros substituem hospitais

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Por culpa de sua eficiência, o serviço de resgate do Corpo de Bombeiros acabou se transformando, em cinco anos, numa espécie de hospital ambulante.
Criado em 1990 para aprimorar o atendimento dos casos graves de traumatismo causados por atropelamentos e acidentes em geral, o serviço hoje gasta um quarto de seus esforços no atendimento aos chamados casos clínicos.
Doenças crônicas, desmaios ou incapacidade de locomoção já respondem por 25% dos atendimentos das unidades de resgate.
A esse número se pode somar grande parte dos atendimentos catalogados como "partos de emergência", responsáveis por 6% das 52.566 ocorrências atendidas pelos bombeiros em 1994.
Segundo o tenente Wilson de Oliveira Leite, os bombeiros com frequência descobrem, ao chegar no local do parto, que a situação não é de emergência e que a parturiente apenas necessita de transporte para a maternidade.
Os acidentes de trânsito -31% dos socorros- ainda são a principal causa de atendimento.
Criado sob inspiração norte-americana, o serviço hoje dispõe de 140 caminhonetes no Estado.
Essas "unidades de suporte básico", como são chamadas, andam com três bombeiros, todos com pelo menos 140 horas de curso de primeiros socorros.
O serviço (gratuito) é acionado pelo telefone 193. O tempo médio de resposta, da chamada do 193 à chegada da unidade de resgate, é de oito minutos. O tempo ideal é de cinco minutos.
Na última sexta-feira, a Folha presenciou como a guarnição dos Bombeiros na Casa Verde (zona norte de São Paulo) se transformou num pronto-socorro.
Auta Traballi, 82, que sofre de diabetes e pressão alta, acordou passando mal e foi levada de carro por seus filhos para um pronto-socorro municipal no bairro de Vila Nova Cachoeirinha (zona norte).
Às 8h20, o trânsito pesado na marginal Tietê impedia que o carro de José Traballi avançasse.
Por indicação de um motoqueiro que passava ao lado, a família corre para o Corpo de Bombeiros.
Por sorte, uma das duas "equipes de suporte avançado" do serviço, que conta com um médico, estava na guarnição.
A médica Fátima Pamponet constatou que a paciente estava tendo uma parada respiratória e pediu auxílio ao Centro de Operações dos Bombeiros.
Em menos de um minuto, Fátima conseguiu reanimar Auta e o Centro de Operações decidiu remover a paciente de helicóptero.
Quinze minutos depois de chegar à guarnição dos Bombeiros, Auta Traballi foi removida para a Santa Casa em helicóptero da PM.
"Se tivesse ficado no carro, com esse trânsito, ela teria morrido", disse a médica Pamponet.
Na mesma manhã, a unidade de suporte básico foi enviada ao Tucuruvi (zona norte) para atender uma criança de sete anos com suspeita de fratura no fêmur (veja sequência ao lado).
"Chamei os bombeiros porque estava sem dinheiro para levar a Viviane de táxi até o Pronto-Socorro", explicou a mãe, Sandra de Oliveira.(Mauricio Stycer)

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