São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Falta de organização isola opositores

FREDERICO VASCONCELOS
DO EDITOR DO PAINEL S/A

Moreira Ferreira ficou mais próximo dos progressistas no primeiro ano de mandato. No segundo, aproveitou a fragmentação da oposição e recompôs alianças com os conservadores. Agora, no terceiro, colhe o apoio nas duas pontas, inibindo resistências à reeleição.
"Ele poderá entrar para a história com seu segundo mandato ou virar mais um busto de bronze no décimo quinto andar da Fiesp", diz Mário Bernardini, expoente do grupo "Novo Ciesp".
A transição está sendo lenta para o gosto dessa oposição nascida no PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais).
O PNBE já não é um obstáculo à reeleição do presidente da Fiesp. Emerson Kapaz, que foi derrotado nas urnas por Moreira Ferreira, em 1992, hoje é secretário de Ciência e Tecnologia do governo de São Paulo. A presidência da Fiesp não está mais em seus horizontes.
No interior (onde Kapaz era mais forte), Moreira Ferreira conta com a aprovação indiscutível das regionais do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
Em consulta realizada pela Folha, junto a 14 diretores regionais do Ciesp, sua gestão recebeu nota 8,5 (quatro deram nota 10).
Em parte, esse índice elevado de aprovação pode ser atribuído ao fato de que esses diretores foram indicados por Moreira Ferreira (a partir de agora, serão eleitos).
Os industriais vão às urnas este ano sem o risco do "racha" que marcou a eleição de 1992. Na ocasião, líderes de sindicatos expressivos admitiam criar a federação do setor eletrometalmecânico.
Em sua maioria originários do PNBE, entendiam que a eleição de Emerson Kapaz dividiria a indústria. Eles decidiram preservar a unidade. Apoiaram Moreira Ferreira depois que ele firmou um documento comprometendo-se a modernizar as duas entidades.
Nascia então o grupo "Novo Ciesp", com lideranças como Adauto Ponte, Cláudio Vaz, Paulo Butori, Celso Varga, Mário Bernardini, Cassio Vecchiatti, Luiz Péricles Michielin, entre outros.
"Nenhuma das promessas acordadas foi desmentida e 80% dos compromissos foram cumpridos", atesta Vecchiatti.
A proposta de eleições do Ciesp precedendo as da Fiesp não foi introduzida porque não foi aprovada em assembléia. Como a votação no Ciesp é feita num colégio maior (votam os representantes das milhares de empresas), sua antecipação poderia inibir uma eleição viciada na Fiesp (quando votam apenas os sindicatos).
Criado por meia dúzia de industriais, o grupo "Novo Ciesp" reuniu 22 assinaturas no termo de compromisso. No primeiro ano de gestão, já chegava a mais de 130.
Logo no começo da nova administração, os mais conservadores se surpreendiam com declarações de Paulo Butori, do Sindipeças, já falando em nome da Fiesp.
O maior choque ocorreria com Mário Bernardini, indicado para coordenar o Grupo Permanente de Política Industrial e surpreendido, depois, com o convite para dirigir o Departamento de Economia, o mais importante da entidade.
O esvaziamento do grupo "Novo Ciesp" é atribuído à "fogueira de vaidades" quando surgiram os candidatos a candidatos à sucessão de Moreira Ferreira. "Ele sentiu o perigo", diz Bernardini.
Moreira Ferreira substituiu Bernardini por Boris Tabacof, quando era claro o choque de opiniões. Bernardini diz que, inexperientes, os membros do grupo se contentaram com a indicação para atuar em vários departamentos, quando o que pesa é a titularidade.
"Por falta de organização, perdemos espaço", admite Michielin. "Falhamos, porque as reuniões deveriam ser abertas. Não trabalhamos politicamente, o grupo ficou fechado", diz. "Não soubemos fazer a transição do grupo para a diretoria", diz Vecchiatti.
Chamados pelos conservadores de "xiitas" (alusão aos radicais muçulmanos) e de "jacobinos" (defensores exaltados da democracia), os membros do "Novo Ciesp" circulam com desenvoltura na Fiesp. Mas voltarão aos sindicatos, para começar tudo de novo.

Colaboraram a Agência Folha e os Regionais

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