São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Intrigas do Segundo Reinado

AUGUSTO MASSI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A crítica literária Flora Sussekind, 39, está trabalhando na organização e fixação do texto das "Memórias do Sobrinho do Meu Tio", de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882). Neste romance, que foi publicado em dois tomos, o primeiro em 1867 e o segundo em 1868, Macedo retoma o personagem da obra anterior, "A Carteira do Meu Tio"(1855).
Em linhas gerais, a história trata das ambições de um sobrinho, bon-vivant, que ao retornar da Europa, revela ao tio a pretensão de entrar na vida política. Depois de ser presidente de cinco províncias e cumprir uma série de favores, conquista uma cadeira de Deputado na Assembléia. No outro extremo, está o personagem do Compadre Paciência que, apesar de sua honestidade, acaba na prisão.
Flora Sussekind destaca que "a graça do livro está no seu aspecto documental, quase uma revista do Segundo Reinado. Escrito durante um período de grande instabilidade da vida política nacional -entre 1862 e 1868 caem cinco ministérios-, o romance revela todo tipo de falcatrua e jogada política necessária para se fazer um deputado". Por outro lado, segundo Flora, "as grandes questões da vida política brasileira como, por exemplo, a Guerra do Paraguai, surgem de modo emblemático. Quando o Duque de Caxias ameaça abandonar a guerra e abre uma crise no gabinete Zacarias, está configurado o momento em que os militares começam a dar as cartas na vida política".
Em segundo lugar, o romance lança luz sobre "a figura do Sobrinho que ainda não foi devidamente estudada e sugere um diálogo entre o primeiro romantismo e o último Machado de Assis. É revelador aproximar as 'Memórias de Bonifácio de Amarantes' de Manuel Araújo Porto Alegre, do qual Macedo aproveita a figura do sobrinho nas suas 'Memórias do Sobrinho de Meu Tio' que, posteriormente, foram lidas, numa chave crítica, pelo Machado de Assis das 'Memórias Póstumas de Brás Cubas'. As três narrativas giram em torno desta figura, cujo maior atributo social é ser sobrinho.
"Memórias do Sobrinho de meu Tio" confirma a existência de uma contraficção romântica, cujo registro é irônico e desabrido. Fica como sugestão da crítica reunir em um volume alguns desses textos de Gonçalves de Magalhães, Araújo Porto Alegre e Joaquim Manuel de Macedo, o que nos daria uma idéia desta linhagem não oficial dentro do romantismo brasileiro.

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