São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995 |
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Ministro faz o gênero "falso caipira"
CLÓVIS ROSSI
Já tentou ser candidato a candidato no ano passado, mas sentiu que lhe faltava cacife. Desistiu e levou seu partido, o PTB, do qual é presidente licenciado, a integrar-se à coligação com PSDB e PFL que acabaria elegendo FHC. A própria licença da presidência petebista é astúcia: FHC decidiu que presidentes de partidos não poderiam ser ministros em seu governo. Logo, Andrade Vieira estaria excluído da visibilidade que cargo ministerial sempre dá. Consequência: licenciou-se da presidência do PTB e forçou a sua indicação para a pasta da Agricultura, que já havia ocupado interinamente no governo Itamar Franco. Paranaense de Tomazina, 56, seis filhos, chegou à presidência do grupo Bamerindus por acaso. Seus irmãos mais velhos morreram em acidente de avião e tocou-lhe comandar os negócios da família. Tinha, até então, fama de pouco preparado. Mas desmentiu a imagem ao transformar o Bamerindus em um dos principais bancos brasileiros. Sua matreirice lhe permite propostas pouco ortodoxas para um banqueiro: já criticou, por exemplo, os juros excessivamente elevados, embora seja essa uma das grandes fontes de renda do setor financeiro. Como ministro interino da Agricultura, permitiu-se outra heresia ao defender a elevação do Imposto de Renda sobre o lucro dos bancos. Isto em setembro de 93, quando a superinflação ajudava os bancos a terem superlucros. Mesmo assim, o fato de ser banqueiro continua atrapalhando sua imagem pública. A chamada bancada ruralista da Câmara dos Deputados, por exemplo, protestou contra sua indicação para a Agricultura. "O ministro é antes de tudo um banqueiro. Só depois representa o político e, então, o agricultor", dizia à época o presidente da Confederação Nacional da Agricultura, Antônio de Salvo. Ser dono de banco ajuda também: o deputado Valdomiro Neger (PP-PR) foi convidado a transferir-se para o PTB de Andrade Vieira, depois de ser cobrado de um "papagaio" de R$ 30 mil espetado justamente no Bamerindus. Neger nega qualquer favorecimento, mas o deputado Valdemar Costa Neto (SP), líder do PL, outro partido sobre o qual o PTB fez ofensiva, acusou: "Ele está usando o banco. Como é dono do banco, pensa que é dono do mundo". Nem tanto. Mas Andrade Vieira não desperdiça chances de aumentar seu patrimônio, ainda mais em áreas que possam ajudá-lo politicamente. Exemplo: acaba de se tornar dono de 49% das ações da CNT, a rede de TV criada com ajuda direta do então presidente Fernando Collor, do qual ele foi eleitor confesso. Mas foi com Itamar Franco que ganhou seu primeiro posto de relevo, o de ministro da Indústria, Comércio e Turismo, em outubro de 92. Foi em sua gestão que se privatizou a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Brizola, presidente do PDT e adversário das privatizações, acusou-o de irregularidades nunca comprovadas no processo de privatização. Andrade Vieira sempre exerceu poderosa influência na política paranaense: a sede de seu banco é o Paraná e uma empresa de tal porte sempre tem peso político. Mas a influência de bastidores não bastava e candidatou-se ao Senado, em 90, elegendo-se. Tem mandato até 98 e pode perder o cargo de ministro que continuará no centro do jogo em Brasília, pronto para reavaliar seu cacife e verificar se é ou não a hora de tentar a Presidência, seu grande projeto de vida. Texto Anterior: Sinal atingirá todos os Estados Próximo Texto: Números de assinantes de Net e TVA são polêmicos Índice |
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