São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 1995
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Dívidas rurais têm que ser pagas, diz FHC

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso, 63, disse ontem que os produtores rurais que têm dívidas com o Banco do Brasil terão de pagá-las. Ele também criticou o Congresso pela decisão de suspender a TR (Taxa Referencial) como indexador do crédito agrícola.
FHC disse esperar o pagamento das dívidas por "uma questão de justiça". O Banco do Brasil tem R$ 16 bilhões emprestados em 400 mil contratos.
Numa crítica à derrubada do veto presidencial do artigo da lei da URV (Unidade Real de Valor), que mantinha a TR, na última quarta-feira, FHC afirmou que os parlamentares não têm de pensar "em pequenos grupos". Ele responsabilizou os ruralistas pela falta de negociação e negou que tenha evitado encontros.
FHC não confirmou se vai conversar nesta semana com a bancada ruralista. Com o fim da TR, estão suspensos novos contratos de crédito agrícola.
A seguir os principais trechos da entrevista concedida ao final do jogo entre Executivo e Legislativo, ontem na Granja do Torto:

Pergunta - Este foi o pontapé inicial para entendimento com o Congresso na questão da reforma constitucional e da dor de cabeça do governo com a TR?
Fernando Henrique - A TR não dá dor de cabeça para o governo. Dá para o Brasil. Mas a Câmara agora vai colaborar e resolver.
Pergunta - A bancada ruralista diz que tentou negociar e não conseguiu. É verdade?
Fernando Henrique - Não. Eles estiveram reunidos comigo, umas 60 pessoas. Eu pedi que viesse um grupo menor. Nem sabia que eles iam votar. (NR.: No dia 30 de março FHC recebeu em audiência no Planalto os ruralistas e prometeu o fim da TR.)
Pergunta - O senhor vai se reunir com os ruralistas esta semana?
Fernando Henrique - Não sei, não sei. O problema agora é do Congresso. Evidentemente, o agricultor tem uma situação difícil. Agora, não se resolve uma questão dessa delicadeza tomando uma decisão que leva um prejuízo tão grande para o Tesouro.
Pergunta - O deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) disse que a bancada ruralista está preparada para ir para o ringue se o governo quiser radicalizar. Isso dificulta as negociações?
Fernando Henrique - Ninguém vai radicalizar nada. Temos de acertar a situação do Brasil. Nós não acabamos com a TR (Taxa Referencial). Isso é coisa antiga, herança do governo Collor.
Pergunta - O senhor acha que os produtores têm de pagar o que devem para o governo?
Fernando Henrique - Eu acho. É uma questão de justiça.
Pergunta - Em cem dias de governo, em campo a oposição e o governo, faz falta atacar?
Fernando Henrique - Não falta nada. Falta trabalhar. Temos de resolver problemas e não criar casos desnecessários.
Pergunta - O que faltou e o que se destaca nestes cem dias?
Fernando Henrique - Eu não destaco nada. Eu sempre disse que cem dias é uma ilusão da imprensa. São quatro anos.
Pergunta - O que o senhor acha da proposta do deputado Almino Afonso/PSDB-SP (de que as mudanças na aposentadoria só atinjam quem começar a trabalhar após sua aprovação)?
Fernando Henrique - O ministro Reinhold Stephanes (Previdência) tem de conversar. Tem de discutir, mas pensando no Brasil e não em pequenos grupos.

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