São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 1995 |
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Comercialização da safra é primeira "vítima" ALBERTO FERNANDES ALBERTO FERNANDES; CARI RODRIGUES
A maior parte da safra, de cerca de 80 milhões de toneladas, depende da liberação de empréstimos até o final deste mês. Todos os bancos suspenderam seus financiamentos de crédito rural desde a última quinta-feira, um dia após a decisão do Congresso. Se o crédito agrícola não for retomado até o início do próximo mês, a situação ficará ainda mais grave. Isso acontecerá porque, nesse período, começa o plantio da próximas safra, a de inverno. "Os pequenos agricultores serão os mais prejudicados porque eles não têm recursos próprios para o cultivo e vão plantar apenas para sobrevivência", disse o presidente da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), Francisco Urbano. Na noite de quarta-feira, os parlamentares mudaram a forma de correção dos empréstimos agrícolas, substituindo o antigo reajuste pela TR (Taxa Referencial de Juros) pela variação dos preços mínimos, que estão congelados desde julho do ano passado. O preço mínimo é o preço que o governo se compromete a pagar por alguns produtos agrícolas (milho, soja, arroz, por exemplo) quando o produtor não consegue vendê-los no mercado. Como o governo afirma que continuará sem reajustar os preços mínimos, os empréstimos agrícolas ficam, na prática, sem correção alguma, o que inviabiliza qualquer novo empréstimo. A TR acumulada de 1º de julho (data de implantação do real) até sexta-feira passada era de 27,6%. Soluções possíveis Nesta semana, o governo começa a negociar com o Congresso a elaboração de uma MP (medida provisória) ou projeto de lei anulando a nova regra aprovada pelos parlamentares. A bancada ruralista, de cerca de 140 deputados, recusará a volta da correção pela TR. Eles exigirão do governo, pelo menos, um novo mecanismo de reajuste mais barato que a antiga taxa. Os empréstimos para comercialização, que precisam ser liberados até o final deste mês, permitem que os agricultores possam esperar para vender seus produtos na entressafra, quando a oferta é menor e os preços sobrem. Desabastecimento Sem o crédito agrícola para a comercialização, a tendência é que os agricultores sejam forçados a vender imediatamente seu produto, o que causaria uma queda de preços agora e afetaria o abastecimento na entressafra. Para evitar esse cenário, o governo terá que encontrar uma forma de reverter a decisão do Congresso Nacional antes do final do mês. O empréstimo com correção pelos preços mínimos é inviável para os bancos porque estes apenas repassam recursos, principalmente de poupadores, ao crédito rural, e são obrigados a pagar os juros da TR e mais 6% ao ano às cadernetas de poupança. Texto Anterior: Dívidas rurais têm que ser pagas, diz FHC Próximo Texto: Aníbal nega ter sido negligente Índice |
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