São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 1995
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O publicitário do ano

FRANCESC PETIT

Há muitos anos, tenho como tradição, indicar o Julinho como publicitário do ano, do Prêmio Colunistas de Propaganda.
Não tenho dúvida nenhuma em afirmar que o Julinho Xavier da Silveira é um dos mais brilhantes publicitários do nosso país, ele somente usa uns equipamentos diferentes dos que usamos nós, os diretores de arte ou redatores. Ele vê a propaganda através da câmera, do vídeo, da moviola, de todos os sofisticados equipamentos usados para a realização de comerciais.
Não é à toa que os momentos mais brilhantes da Almap foi o Julinho que deu a esta agência, quando era ainda brasileira. Ninguém esquece o filme em P&B, feito para Danone -"Menino Francês" (Geladerrra); os filmes para cerveja Antárctica com o Adoniran Barbosa ("Nóis viemo aqui pra bebê ou pra conversá?" e para guaraná Antárctica "Teobaldo"; Margarina Saúde -"Professor rouba lanche do aluno"; Rum Bacardi -"Xingokid" e Lubrax 4 -"Estação de Trem". Igualmente os anos que ele passou na DPZ são um marco na história desta agência, filmes como "O Primeiro Beijo", para Guaraná Taí; "Itaú, pode entrar que a casa é sua" e "Avô e Neto"; Chambinho "Reagan e Brejnev", "Carinhoso"; "Menina e professora" -Melissa; "Salchicha Sadia" e "Sadia - 50 Anos"; "Morte do Orelhão" e "Rifaina" da Telesp, Kaiser "Avião", e muitas outras obras primas que o Julinho não só dirigiu, mas que ele, com seu talento de publicitário, transformou os roteiros criados pelas agências em grandes peças publicitárias.
Muito do sucesso da W/Brasil se deve aos comerciais feitos para cerveja Antárctica; "Sadia - 50 anos"; Grendene; Unibanco; Valisère "Primeiro sutiã"; Cofap "Amortecedores-Basset"; Mon Bijou "Ciúme" e Boticário "Marina".
Acontece que no nosso país há muitos preconceitos, assim como o publicitário não pode ser ao mesmo tempo artista, ou o diretor e cineasta, não é considerado um publicitário, daí ele, Julinho, não entra nas listas dos concursos da propaganda nacional. Ele não é considerado um publicitário, apesar de ter trabalhado anos na Almap, DPZ e na W/Brasil.
Oras, não é exagero nenhum dizer que o Julinho é disparado o melhor diretor de comerciais do país, exatamente porque ele é do ramo da propaganda, ele não é "fazedor de filmetes", e tenho certeza absoluta que esta minha afirmação é compartilhada com todos os diretores de comerciais existentes no Brasil e, no entanto, o Julinho nunca foi escolhido para ser o publicitário do ano, nem muito menos o profissional do ano do prêmio da Globo, e assim o resto de prêmios existentes no país, só recebeu honrarias como profissional de produção e direção de comerciais.
Também nunca foi convidado para ser nosso jurado nos Festivais da SAWA em Cannes, o Clio em New York, o Fiap da América Latina, sendo ele o que melhor conhece a matéria.
Nos Estados Unidos, na lista dos melhores publicitários, os diretores de comerciais fazem parte delas há muitos anos, assim como participam de todos os festivais representando o país: Mark Coppos, Lee Lacy, David Wild, David Cornell, Jim Malzano, Joe Pitka, John Marles, Mark Story, Steve Horn, Lois Dorsfman, Rick Levine, Howard Zeife...
É curioso esse preconceito que chega a raia do racismo profissional, ignorando o talento de brilhante criatura que, graças à sua genialidade, muitas agências têm êxito no mercado nacional e internacional, muitos profissionais se promovem por aí com seus prêmios e suculentos salários, alguns deles, não todos, esquecem até de citar o nome do Julinho.
O Julinho é uma pessoa discreta e pela simples razão que não gosta de se badalar, não gosta de coluna social, não frequenta restaurantes de luxo, nem convida jornalistas para tomar drinks na sua casa, ele é, de fato, um gênio da discrição e da ética profissional.
Se a propaganda brasileira tornou famosa de fato no mundo, nisto também ajudou o profissionalismo do Julinho, pois ele com sua maneira doce e romântica, sempre procurando para seus filmes situações muito latinas e comoventes, realizadas com uma competência que não deixa nada a invejar aos melhores diretores de comerciais do mundo.
Aliás, numa conferência que fiz recentemente em Barcelona, falei que, apesar de toda a fama e prêmios que os espanhóis ganham e que se consideram já no nível de Estados Unidos e Inglaterra, que isto era ilusão, pois ainda a propaganda brasileira é melhor do que a espanhola, pois na Espanha não existe nenhum Julinho...

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