São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 1995
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Mercado caminha no rumo de produtos personalizados

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

"Criando uma nova civilização" (Turner Publishing, Atlanta), o novo livro do casal de futurólogos norte-americanos Alvin e Heidi Toffler é apontado como um manual da era pós-industrial para executivos e consumidores.
Em 112 páginas, a obra, ainda inédita no país (a editora Record está negociando com os Toffler sua edição ainda em 1995) resume as idéias do futurólogo sobre os valores e tendências predominantes na era dos computadores, que o autor batizou de Terceira Onda, em sequência à Segunda Onda industrial.
Eis uma síntese da extensa lista inserida na agenda dos negócios deste final de século: 1)Desmassificação do mercado: o avanço tecnológico viabiliza a substituição do ciclo da produção em massa (produtos padrões vendidos em grandes volumes) pela segmentação quase infinita de produtos e serviços, que pode atingir o nível de "partículas": artigos confeccionados para famílias étnicas ou membros de um clube. Por exemplo: cartões de afinidade que conquistaram o público brasileiro.
"Na maioria das fábricas era extremamente caro mudar qualquer produto", observa o autor. "Exigia fabricantes de ferramentas especializados e bem pagos e resultava em tempo ocioso maior durante o qual as máquinas ficavam inativas e consumiam capital, patrimônio e mão-de-obra."
A lógica das economias de escala baseia-se no fato de que lotes cada vez maiores dos mesmos produtos reduzem os custos unitários. Equipamentos informatizados criaram linhas de montagem flexíveis para encomendas personalizadas.
2)Valores intangíveis: o valor das empresas passa a ser determinado menos por seus ativos fixos (prédios e máquinas) do que pela capacidade de implementar estratégias vencedoras que geram novas patentes e reforçam suas marcas no mercado.
"As ações da Microsoft são mais valorizadas que as da General Motors. Mas ninguém se importa quantos prédios têm a Microsoft. O que conta é o que seus executivos têm na cabeça. É a era da economia super-simbólica", diz Toffler.
3)Corrida da inovação: o acirramento da competição internacional despertou nas empresas uma obsessão sem precedentes pela inovação -não apenas para orientar os lançamentos de novos produtos, mas igualmente aplicada nos processos produtivos, mercadológicos e financeiros.
"Empresas inteligentes estimulam seus funcionários a tomar a iniciativa de apresentar novas idéias e, se necessário, jogar fora o manual de normas", diz Toffler.
4)Desburocratização: na batalha pela eficiência, as corporações tratam de desmantelar suas estruturas burocráticas e hierarquias piramidais. "Mercados, tecnologias e necessidades do consumidor mudam tão rapidamente e geram pressões tão diversificadas sobre a empresa que a uniformidade burocrática está com os dias contados", afirma o autor.
5)Redes de dados: incalculáveis cifras vêm sendo investidas nesta década na instalação de redes eletrônicas que conectam computadores e bancos de dados. Isso se deve à necessidade de sincronizar as entregas, colher informações de fornecedores e clientes e manter as equipes de pesquisa e desenvolvimento informadas sobre as mudanças do mercado.

"O que torna a economia da Terceira Onda revolucionária é o fato de que a terra, a mão-de-obra, as matérias-primas e talvez até o capital podem ser considerados como recursos finitos, mas o conhecimento é inesgotável. Diferentemente de uma linha de montagem, o conhecimento pode ser usado por duas empresas ao mesmo tempo. Assim, as teorias baseadas em insumos finitos não se aplicam às economias da Terceira Onda.(...) No entanto, a maioria dos economistas fica impressionada e descarta essa idéia porque é difícil de ser quantificada."
(De Alvin Toffler e Heidi Toffler em "Criando uma nova civilização").

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