São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 1995
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Crise mexicana cria clima de solidariedade

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Após seu lançamento há cem dias, o Mercosul (Mercado Comum do Sul, formado pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) sofreu um sério abalo quando suas naus capitânias, o Brasil e a Argentina, começaram a fazer água atingidas pela crise do México e a desvalorização em aproximadamente 50% da moeda mexicana, em dezembro passado.
Um grupo de importantes empresários do país acha, porém, que o barco do Mercosul não vai à pique. Ao contrário, na opinião deles, a crise mexicana criou um clima de maior "solidariedade" entre brasileiros e argentinos, os verdadeiros interessados em que o Mercosul, com seus 80 milhões de consumidores, dê certo.
Essa foi a conclusão de dois seminários empresariais sobre o Mercosul realizados na semana passada. Um organizado pelo Ceal (Conselho Empresarial da América Latina), em Buenos Aires, e o outro pelas câmaras de Comércio alemãs do Mercosul (Assunção).
Antonio Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim, não acredita em naufrágio do Mercosul, mas prevê mau tempo pela frente até que Argentina e Brasil alcancem a estabilidade econômica. Para ele, o Mercosul é necessário como um "pré-estágio" para a união com o Nafta (Acordo de Comércio Livre da América do Norte) na criação de um grande mercado livre no continente americano.
Roberto Teixeira da Costa, presidente do capítulo brasileiro do Ceal, diz que os investimentos brasileiros na Argentina, que alcançaram US$ 1 bilhão nos últimos quatro anos, devem diminuir este ano por causa da recessão na Argentina e o ajuste na economia brasileira. Mas, diz, as perspectivas de desenvolvimento do Mercosul são excelentes. A crise mexicana acelerou o processo de uma maior compreensão entre brasileiros e argentinos.
Costa diz que o seminário de Buenos Aires mostrou que o nível de relacionamento entre Brasil e Argentina alcançou uma fase de "maturidade muito grande".
Werner Karl Ross, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, de São Paulo, que representa empresas com investimentos de US$ 9,5 bilhões no país, diz que a crise no México fortaleceu a decisão dos empresários do Mercosul de trabalharem juntos para viabilizar o ideal de uma próspera zona de comércio livre na região.
Henrique de Campos Meirelles, primeiro presidente brasileiro da Câmara Americana de Comércio, de São Paulo, que representa empresas com investimentos de US$ 14 bilhões no país, diz que o barco do Mercosul não está indo à pique, embora não seja "aquele Jumbo voando velozmente em direção ao Primeiro Mundo".
Paulo Cunha, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e do grupo Ultra, acredita que o Mercosul é uma iniciativa importante que pode multiplicar várias vezes o comércio bilateral entre o Brasil e a Argentina, que alcançou o recorde de US$ 10 bilhões, no ano passado.
O crescimento do Mercosul será mais lento por causa da busca de estabilidade no Brasil e Argentina, diz, mas acontecerá. Para exemplificar sua opinião, ele usa uma frase de La Fontaine (Jean de La Fontaine, poeta francês que viveu de 1621 a 1695, cujas fábulas estão entre as obras-primas da literatura francesa): "O desenvolvimento é coisa para formiga não para cigarra".

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