São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 1995
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Programa desperdiça talento de Gabi

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Passadas dez edições desde a estréia em fins de março, "Marília Gabi Gabriela" ainda não conseguiu engrenar. As partes que compõem o talk show permanecem desconectadas.
Embora tenha contado com convidados interessantes -ilustres ou não- o programa não tem conseguido criar aquele clima de empatia necessário à exposição de novidades e à criação de notícia, que sabemos que ser especialidade da apresentadora.
Paulo Autran, na sua participação da última sexta-feira, explicou com muita propriedade que, como ator, nunca se sentiu pronto para representar qualquer papel.
Para ele, todo novo papel exige o trabalho de encarar a personagem "como uma pessoa diferente que você tem que descobrir justamente naquilo que é interessante".
Talvez essa posição valha também para o show de entrevistas. Uma boa entrevista exige que o texto do entrevistador mergulhe no universo específico de cada entrevistado. Como demonstrou a própria Marília Gabriela durante tantos anos com o "Cara a Cara".
O melhor ator do Brasil, por exemplo, tem toda uma história que perpassa a cultura brasileira dos últimos 45 anos.
Teria sido interessante, por exemplo, explorar sua maneira de olhar para trás e reavaliar a importância do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) em que atuou e do Arena e do Oficina (outros grupos teatrais criados nos anos 60), aos quais não se ligou diretamente.
Não se trata de discutir se a maioria dos telespectadores prefere ouvir as respostas de seus ídolos a perguntas mais leves, mais emocionais ou mais profissionais. A questão não está posta em termos de que assuntos privilegiar.
Trata-se de encontrar a melhor forma de entrar em sintonia: de superar, a cada entrevista, o estranhamento que existe entre quem pergunta e quem responde.
Uma questão intelectual bem colocada certamente pode levar o entrevistado a se expor, às vezes em termos emocionais.
Assim como uma questão pessoal mal colocada pode levar a respostas intelectualmente previamente preparadas. E Marília já demonstrou isso diversas vezes.
Diante da frieza que tem caracterizado as entrevistas, o auditório, aparentemente feminino, tem permanecido alheio ao programa.
A participação dessas fãs está reduzida ao anúncio inicial dos bairros de que são provenientes e aos aplausos a cada começo e fim de entrevista. Fora disso, não se ouve um suspiro.
Tonica, a responsável pela produção de comentários sonoro-musicais, também permanece pouco integrada, no canto esquerdo.
Suas intervenções correm o risco de passar despercebidas, reduzidas a obrigatórios rápidos segundos sobrepostos ao "Me espera, tá" com que Gabi intima o telespectador a permanecer ligado depois dos comerciais.
Por que não se aventurar em entrevistas mais densas, sensíveis, e como tal mais provocativas? Por que não descartar o tom engraçadinho por exemplo da abertura da última sexta-feira sobre o zodíaco?
Por que desperdiçar Marília Gabriela? Resta adequar o formato às qualidades da apresentadora.

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