São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 1995 |
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Mitterrand faz balanço da vida
ANDRÉ FONTENELLE
"Mémoire à Deux Voix" ("Memória a Duas Vozes"), que será lançado hoje nas livrarias francesas, contém entrevistas dadas por Mitterrand a Elie Wiesel, Prêmio Nobel da Paz em 1986. O presidente francês se explica, principalmente, sobre suas relações ambíguas com o regime colaboracionista de Vichy, durante a ocupação (1940-1944) da França pela Alemanha. "Só respondo porque é você", diz a Wiesel, 67, um dos mais famosos sobreviventes do Holocausto, que se disse "angustiado" pela controvérsia. Mitterrand, 78, conta que demorou a tomar conhecimento das leis anti-semitas adotadas na França ocupada. "Não me atirei sobre o Jornal Oficial" ao fugir da Alemanha, onde fora prisioneiro. "Ver as estrelas amarelas (que os judeus eram obrigados a portar) e conhecer a situação dos judeus me afastaram de um sistema que aceitava esse crime", completa, explicando sua entrada na Resistência, em 1943. Mitterrand também se explica a Wiesel quanto à amizade que manteve por muitos anos, após a guerra, com René Bousquet, ex-chefe da polícia nazista na França. O presidente diz que o conheceu em 1949 e que não conhecia muito sobre seu passado: "Essa acusação que me é feita é indigna". Em 1986, ao saber do envolvimento de Bousquet com a deportação de judeus, Mitterrand deixou de vê-lo. Mas já em 1978 o passado de Bousquet fora denunciado. O presidente, que sofre de câncer na próstata, também fala sobre a morte. Agnóstico, diz que nada lhe prova a existência de uma "justiça suprema". Sobre a doença, admite não ser "mais corajoso que ninguém". Finalmente, declara adotar como sua a frase que o ex-chanceler alemão-ocidental Willy Brandt (1913-1992) fez gravar em sua lápide: "Fiz o que pude'. O presidente parece disposto a externar seus pontos de vista antes de deixar o poder. O canal 2 (estatal) da TV francesa anuncia para sexta-feira um programa especial, em que Mitterrand será entrevistado pelo jornalista Bernard Pivot. Começou ontem o horário eleitoral gratuito na televisão francesa. Cada um dos nove candidatos tem direito a 6 minutos diários, apenas nas emissoras estatais. A campanha na TV durará apenas duas semanas. O primeiro turno da eleição será no próximo dia 23 e o segundo, em 7 de maio. Próximo Texto: Líder republicano Bob Dole lança candidatura a presidente dos EUA Índice |
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