São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 1995
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Pimba na gorduchinha

HÉLIO SCHWARTSMAN

SÃO PAULO - "Mens sana in corpore sano." Não pude assistir ao certame travado entre nossos solertes legisladores e nossos sagazes funcionários do Executivo. Ainda assim, arrisco um comentário. Como não entendo nada mesmo de futebol, tanto faz ter ou não acompanhado a partida. Sei que a vida imita a arte, a arte imita a vida, e todas elas imitam o esporte ou por ele são imitadas. E isso tudo é preocupante.
É claro que se tratava de um evento lúdico-publicitário, ou publicitário-lúdico -não sei qual prevalece-, mas o que ocorreu não foi nada bonito. O chefe da equipe executiva, FHC, não procurou esconder a orientação que passou a seu escrete: perder o jogo para melhorar as relações com o Congresso.
O motivo pode ser nobre -fazer as reformas constitucionais e transformar o Brasil numa espécie de Pasárgada-, mas os meios são discutíveis. Não se conhece nenhum país no mundo cujos parlamentares troquem votos por gols contra ou outras facilidades esportivas -eles querem é cargos mesmo. E depois, é muito feio jogar para perder. Vários esportistas, sobretudo boxeadores, já perderam suas licenças por isso.
A instrução presidencial também soa algo contraditória com a atitude do ministro Paulo Renato. Se a idéia era perder, não havia a menor necessidade de tentar engrupir o árbitro jogando com um atleta a mais. Fica a sensação de descoordenação, ou avacalhação.
Uma ausência incompreensível no selecionado executivo, seja para vencer, seja para valorizar a derrota, foi a do ministro Pelé, o único realmente credenciado para jogar bola. O governo não está utilizando bem seus quadros.
Tampouco os parlamentares agiram de forma diversa da que costumam atuar. Enquanto o Executivo dispunha de apenas 10 jogadores; 25 legisladores disputavam uma vaguinha de atleta no time comandado pelo petista Paulo Paim, também ele incapaz de conter a cargodipsia de seus pares.
A ofensiva publicitária dos dois poderes serviu para mostrar que eles são sempre os mesmos, no campo, fora dele, ou mesmo na misteriosa zona do agrião. Nada contra um pouco de exercício, mas governantes e parlamentares fariam melhor se invertessem o ditado e tentassem mostrar que existe um "corpus sanum in mente sana", ou seja, que é possível haver "um corpo sadio dentro de uma mente sadia".

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