São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Crise da safra tende a piorar, avaliam técnicos

CARI RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A crise na comercialização da safra de verão tende a se agravar ainda mais a partir de maio, caso o governo não encontre rapidamente uma solução negociada para reabrir o crédito agrícola.
A avaliação é dos técnicos da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), ligada ao Ministério da Agricultura, que já estão visitando produtores no interior dos Estados para fazer um diagnóstico da situação.
As operações de crédito agrícola do Banco do Brasil -maior banco financiador do setor rural- estão suspensas desde quinta-feira passada, quando o Congresso derrubou o veto presidencial que atrelava a TR (Taxa Referencial de juros) à correção dos empréstimos agrícolas.
Pela avaliação da Conab, a crise já começou com o atraso na comercialização da grande safra de verão, estimada em 81 milhões de toneladas. O plantio da safra de verão começa no mês de setembro de cada ano e o auge da comercialização é no mês de abril.
Em maio, o fluxo da comercialização será mais forte em decorrência do atraso; a falta de armazéns para estocagem dos grãos será maior pelo excesso de oferta e, consequentemente, os preços no mercado vão baixar ainda mais.
Mantendo-se fechados os financiamentos para o crédito agrícola, a situação da agricultura terá fortes reflexos no Plano Real.
Tudo acontece de forma encadeada: o produtor não consegue um bom preço para vender sua safra de verão, fica descapitalizado e não tem recursos para financiar o custeio da próxima safra de verão.
Ao mesmo tempo, um menor número de produtores plantará a safra de inverno para a produção de 1995/1996 por não ter como levantar dinheiro para custear o plantio e a comercialização, já que os financiamentos estão suspensos.
A consequência poderá ser uma queda na oferta de produtos; com isso, a pressão gerada pelo desequilíbrio entre oferta e procura elevaria os preços. O primeiro reflexo seria a alta da inflação.
Segundo o gerente do Departamento de Análise Econômica da Conab, Ângelo Bressan Júnior, a safra de inverno pode ficar comprometida caso se prolongue por mais um mês a suspensão dos novos financiamentos para custeio.
O plantio da safra de inverno, pelo calendário agrícola, deveria ter começado em 1º de abril. As principais culturas são trigo, feijão, mandioca, milho, aveia e cevada, conforme a Conab.
A "safra da crise" é como os técnicos da Conab estão caracterizando a atual produção. Dos 81 milhões de toneladas, 66 milhões estão sendo colhidos agora. As principais culturas são algodão, arroz, feijão, milho e soja.
Desses 66 milhões, diz a Conab, 46 milhões de grãos não entraram nos contratos de custeio. Nestes casos, os produtores conseguiram financiamento privado ou tinham dinheiro próprio.
Como a tendência é o governo considerar que a nova forma de financiamento vale apenas para contratos novos, quem não fez contrato para custeio através do crédito rural não poderá transformar seu financiamento de custeio em EGF (Empréstimo do Governo Federal).
Pelo EGF, o agricultor transforma seu empréstimo de custeio em outro de comercialização.
Com os financiamentos de EGF suspensos, a tendência será o agricultor ter que vender sua produção por um preço baixo, porque haverá oferta de produto no mercado.

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