São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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FHC combate 'as trevas' e pede o apoio do Congresso

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso cobrou ontem do Congresso Nacional responsabilidade na votação das reformas constitucionais. "Um Poder que não se assume não é Poder", afirmou o presidente.
O recado foi dado em seu discurso de abertura do seminário sobre concessões de serviços públicos, promovido ontem pela SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), no Palácio do Planalto.
Sobre as concessões -que significam a permissão para que empresas privadas executem tarefas hoje a cargo do Estado-, FHC foi claro: "Vamos abrir. Vamos privatizar".
"Eu estou pedindo ao Congresso que assuma a responsabilidade histórica de ajudar o Brasil a dar um salto, e que ele próprio seja o juiz", afirmou o presidente a uma platéia de 200 empresários, diplomatas e parlamentares.
O seminário discutiu a participação da iniciativa privada na concessão de serviços públicos nas áreas de telecomunicações e transportes, além do setor elétrico.
FHC defendeu a necessidade de o país atrair capitais estrangeiros e dar continuidade ao programa de privatização das empresas estatais.
"Não se trata de entregar o que se chama de filé mignon a um tipo de iniciativa e deixar o osso para a outra", argumentou. "Trata-se de balancear isso", disse FHC.
"Mexemos naquilo que parecia imexível, que eram certos monopólios", comentou FHC, arrancando risos da platéia ao fazer alusão ao termo inventado pelo ex-ministro Antônio Rogério Magri, um dos titulares da pasta do Trabalho no governo Collor.
Para reforçar sua argumentação, a favor da privatização e da concessão dos serviços públicos à iniciativa privada, FHC fez um relato histórico do papel do Estado.
Concluiu que a discussão em torno da abertura do país aos capitais estrangeiros não representa mais uma política entreguista (contrária aos interesses nacionais, que entrega tudo ao capital estrangeiro).
"Hoje, a vanguarda (os que estão à frente) são os que querem a reforma", afirmou. "Progressismo é querer a reforma, e neoconservadorismo é se aferrar às velhas idéias".
Ele citou o caso dos monopólios do petróleo e das telecomunicações para lembrar que o Estado não pode mais investir nessas áreas porque o atual modelo econômico está esgotado.
"Vamos abrir, vamos privatizar também. Não nos iludamos. Não vai bastar a concessão, nem a joint venture (associação de empresas para determinado fim) e a parceria. Nós vamos ter de abrir", declarou. FHC afirmou que a decisão caberá não só ao governo, mas também aos parlamentares.
O presidente lembrou que o governo pediu ao Congresso que assuma a responsabilidade de deixar a Petrobrás continuar decidindo sozinha o que fazer com o petróleo. E indagou: "Acaso (a Petrobrás) tem mandato maior que o meu e que o dos deputados?".
Ele fez uma comparação entre sua luta e a briga por reformas que levou católicos e protestantes à ruptura. "Eu sou tão católico assim, que os protestantes não me queiram?", indagou, provocando risos dos participantes.
E questionou: "Estamos voltando à época das trevas, em que a Inquisição (tribunal católico que julgava e punia acusados de cometer pecado) era contra as reformas?".

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