São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Derrota patente

JANIO DE FREITAS
DERROTA PATENTE

Apesar do apelo sutil que o presidente Fernando Henrique fez anteontem à noite, no jantar com lideranças do Congresso a convite do vice Marco Maciel, 12 horas depois lhe foi imposta nova derrota política: a lei de patentes -o presente que Bill Clinton mais desejava receber de Fernando Henrique e que Fernando Henrique mais desejava lhe dar na próxima visita aos Estados Unidos- foi posta ontem de manhã em estado de coma, com escassas possibilidades de salvar-se.
Para quem não se lembra, é aquele projeto de lei que, se aprovado, permitiria que empresas e entidades estrangeiras se tornassem donas por patente, por exemplo, de plantas medicinais brasileiras e de produtos resultantes da fauna típica do Brasil. Ainda candidato, Collor prometeu ao governo americano o seu esforço, se eleito, para a aprovação da lei. Não conseguiu. Itamar Franco estimulou a remessa do projeto para o congelador. Fernando Henrique assumiu o propósito não realizado por Collor.
Marco Maciel marcou o jantar em dia bem escolhido: a véspera da votação do projeto pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado. O presidente teria aí a oportunidade de abordar a lei de patentes de maneira objetiva, mas resguardando-a com a informalidade. Para todos os efeitos políticos e públicos, nada mais do que uma conversa que não o comprometeria com pressões ou apelos explícitos.
"Eu não posso dizer ao Clinton que tenho problemas e que esses problemas me impediram de levar a ele uma solução. Eu preciso de uma coisa concreta para levar" -foi, em síntese, a expectativa que o presidente transmitiu no jantar. Todos ali, conhecedores da posição de Fernando Henrique sobre o projeto das patentes, logo entenderam o que era a "coisa concreta" que ele "precisava levar".
O que, porém, aconteceu na manhã seguinte, a de ontem, não é comum. Os senadores Esperidião Amin e Benedita da Silva pediram vistas do relatório a ser votado (nele, o senador Ney Suassuna encaminhava a aprovação com ressalvas), e a comissão os acompanhou, estabelecendo inabituais vistas coletivas. Como pedido de vistas é prenúncio de voto contra, nem Fernando Henrique levará "coisa concreta" para dizer a Bill Clinton, porque a votação tardará, nem convém que lhe diga sequer algo esperançoso.
Projetos semelhantes foram derrotados pelo Parlamento Europeu e pelo Congresso da Argentina.

Sob controle
Já que se tornou difícil impedir a CPI das Empreiteiras, que o senador Pedro Simon transformou em razão imediata do seu mandato, o presidente do Senado, José Sarney, está manobrando para que a comissão seja dirigida por Gilberto Miranda ou João Rocha.
O primeiro do Amazonas e o outro de Tocantins, ambos seguem o comando político e outros comandos de Sarney.

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