São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Surgimento da "teia mundial" faz explodir uso da rede

LUC DOMENJOZ
DO "LE NOUVEAU QUOTIDIEN"

Sem a World Wide Web (teia mundial), a Internet não contaria hoje com seus cerca de 30 milhões de usuários.
Produtos geniais sempre nascem aleatoriamente. É o caso da WWW, que foi gerada em um laboratório de física de altas energias do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), em Genebra.
Espalhado em mais de 60 edifícios, o Cern é um gigantesco parque científico financiado pelos governos europeus. Permite que cientistas de toda a Europa façam pesquisas em suas instalações, como um acelerador de partículas subterrâneas com cerca de 27 quilômetros de diâmetro.
Para o estudo de colisões entre partículas, os pesquisadores de física de altas energias tentavam descobrir uma teoria que unificasse as diferentes forças reagindo no universo. Tratava-se de uma missão que jamais poderia ter sido bem-sucedida sem perfeita simbiose entre os laboratórios que trabalhavam esse tema na Califórnia, Chicago, Tóquio e Moscou.
Essa disposição geográfica impunha grande troca de informações e de estatísticas entre os pesquisadores. Na Internet, dados podiam transitar com certa eficiência. Foi no Cern que vários projetistas de software acabaram se especializando em navegação pela rede.
Em meados da década de 80, um dos pesquisadores, Tim Berners-Lee, desenvolveu um programa de hipertexto que permitia facilitar o acesso aos programas da Internet. Hipertexto é um sistema que cria ligações entre os diferentes elementos de um texto.
Por exemplo, uma enciclopédia com recursos de hipertexto permite, ao ler um texto sobre J.F. Kennedy, passar rapidamente para Marilyn Monroe ou então para a cidade de Dallas, onde foi assassinado. Tudo isso é possível com o simples toque do mouse sobre as palavras correspondentes ao texto.
Em 1989, ao ler um livro que descrevia um sistema de gerenciamento eletrônico de uma biblioteca, Berners-Lee teve a idéia de combinar a criação de seu software com a Internet para fazer transitar documentos em hipertexto pela rede.
Exatamente quando Berners-Lee precisou avaliar um novo computador, um NeXT, teve que produzir, em menos de três meses, um protótipo desse novo sistema. A idéia era estabelecer ligações diretas do tipo hipertexto pela rede e entre diversas bases de dados espalhadas pelo mundo. O sistema de Berners-Lee definiu um protocolo de comunicação que possibilitou a transferência de imagens, sons e textos pela rede.
Robert Cailliau, um outro projetista de software do Cern, que executa trabalhos similares, associou-se a Tim Berners-Lee. Isso foi no início de 1990. Com a ajuda de um estagiário do Cern, Berners-Lee desenvolveu seu sistema, que não permitia o uso do mouse.
O produto, no entanto, funcionava e não era necessário que essa interface gráfica se popularizasse. Na época, programar essa forma de acesso era tarefa árdua, reservada a gurus especializados. Berners-Lee e Cailliau mapearam universidades em busca de parceiros necessários para dar continuidade ao projeto, encontrando pouco interesse.
No entanto, o protótipo acabou se espalhando pela rede. Em Illinois, nos EUA, Marc Andressen, estudante do NCSA (Centro Nacional de Aplicações de Supercomputação), começou a trabalhar sobre a World Wide Web para que o sistema se tornasse mais amigável e aceitasse o uso de um mouse.
Fim de 1992 e o resultado de seu trabalho, o Mosaic, estava pronto. Os servidores de informação adaptados para o sistema começavam a florescer nos EUA.
Na Europa, a World Wide Web não decolou no início. A uniformidade dos EUA facilita as comunicações, enquanto na Europa as disparidades culturais enfraquecem o fenômeno.
No entanto, o número de servidores que adotaram o protocolo World Wide Web apresentou crescimento fenomenal. Em novembro de 1993, havia cerca de 250 servidores. Um pouco mais tarde, esse número passou para mais de 8.000, dos quais somente a metade é registrada oficialmente.
"Hoje, não consigo estar mais a par do que se faz na Web", admite Robert Cailliau. Cerca de dez novos servidores entram na rede diariamente. É impossível contabilizar números."
Tim Berners-Lee não consegue tirar nenhum benefício material. No entanto, ele adquiriu o status de deus vivo para os "surfistas da rede" do mundo inteiro.

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