São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Internet faz ressuscitar teorias de McLuhan

ERIC MCLUHAN
MARSHALL MCLUHAN ESTÁ DE VOLTA, DE REPENTE.

Há 30 anos, McLuhan suscitou controvérsia quando disse que os avanços das telecomunicações e a informatização iriam transformar o mundo numa "Aldeia Global". A cultura moderna viveria uma volta às velhas tradições orais e tribais, provocando uma degradação da privacidade e do individualismo.
Hoje a comunidade global de 25 milhões de pessoas ligadas à Internet prova que McLuhan estava na pista certa, e esta nova geração "antenada" está revendo suas teorias.
McLuhan morreu em 1980, justamente quando o computador pessoal se transformava em realidade, mas suas idéias ainda estão na vanguarda do estudo da mídia e da análise dos efeitos da mídia sobre a cultura. Todos os meses a revista "Wired", a Bíblia da era da informática e da Internet, inclui o nome de McLuhan em seu quadro de funcionários, sob a rubrica "santo padroeiro".
McLuhan acreditava que a eletricidade contribuía para reunir a população mundial numa "Aldeia Global". A eletricidade não respeita fronteiras políticas ou geográficas; ela atravessa fronteiras e oceanos livre e instantaneamente. Desta maneira ela aproxima tudo e todos. Mas McLuhan acreditava que foi só com o advento da tecnologia radiofônica, no início do século 20, que a "Aldeia Global" começou a se transformar em realidade, até certo ponto.
A Internet ultrapassa fronteiras políticas e geográficas. McLuhan provavelmente diria que hoje, mais do que nunca, os computadores nos estão interligando numa "Aldeia Global", tanto assim que ela já se transformou em algo mais semelhante a um teatro global. Qualquer pessoa que disponha de um computador e um modem pode subir no palco mundial.
McLuhan costumava citar o velho ditado segundo o qual "os acontecimentos vindouros lançam sua sombra à sua frente". Ele acreditava, de fato, que a cultura frequentemente descreve círculos completos. As conferências on line são uma volta à velha tradição oral, a facilidade de ler e escrever já não é um requisito fundamental, como é nos fóruns acadêmicos, e as pessoas interagem, através dos computadores, sem usar palavras: com ícones, com voz e com os novos ambientes de realidade virtual. As novas tecnologias multimídia, assim como as novas mídias, trouxeram novas mensagens. Em suma: surgiu uma nova cultura.
McLuhan acreditava que à medida que são criadas novas tecnologias e as velhas se tornam obsoletas, a interatividade fundamental entre as pessoas também muda. Cada nova tecnologia traz em seu bojo toda uma gama de serviços e desserviços de apoio, sem os quais ela não teria condições de funcionar. Esse ambiente é efeito colateral da tecnologia e é imposto ao usuário, independentemente da utilização ou do conteúdo da tecnologia.
A cultura Internet, ou aquela que se desenvolve a partir de tecnologias semelhantes, pode também vir a se revelar radicalmente diferente de tudo que a antecedeu.
McLuhan acreditava que cada tecnologia humana estende ou amplia alguma faculdade, algum membro ou algum órgão humano. É isso que elas têm de humano. Ao que tudo indica, o computador é a mais extraordinária de todas as vestimentas tecnológicas já criadas pelo homem, pois é uma extensão de nosso sistema nervoso central. Foi o que McLuhan disse em seu livro "War and Peace in the Global Village" (Guerra e Paz na Aldeia Global), de 1968.
Assim, uma tigela estende as mãos colocadas em forma de concha; as roupas estendem a pele. A escrita intensifica a operação do olho, em relação aos outros sentidos, e talvez tivesse acabado com a tradição oral. Após a escrita, o discurso se transforma em forma de arte e nasce a oratória. Mas a escrita destruiu o monopólio cultural e educacional do establishment poético. A tela do computador transforma a TV em forma de arte, exatamente como a TV transformou o cinema em forma de arte, nos anos 50.
McLuhan observou frequentemente que nas circunstâncias em que novas mídias são colocadas em funcionamento na sociedade, elas se espalham como vírus e provocam danos irrestritos, porque permanecem invisíveis.

Tradução de Clara Allain

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