São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Empresários contestam liderança dos EUA

WILLIAM ECHIKSON
DO "WORLD MEDIA"

A superinfovia será dominada pelos Estados Unidos? Será que a Europa e o Japão vão ficar para trás nessa corrida? Dois dos homens mais bem posicionados para responder a essas perguntas são Carlo de Benedetti, presidente da Olivetti, italiana, e Tadahiro Sekimoto, presidente da japonesa NEC.
Ambos vêem o futuro com otimismo, apesar das dificuldades pelas quais suas empresas passaram recentemente. Nos últimos anos a NEC perdeu o domínio do mercado japonês de computadores. A Olivetti, enquanto isso, vem sofrendo perdas gigantescas e agora procura se restabelecer, passando para o setor da telefonia celular.
O seguinte debate foi realizado através de videoconferência. De Benedetti falou da sede da Olivetti, em Ivrea, Itália, e Sekimoto, da sede da NEC, em Tóquio.

Pergunta - O sr. acha que a superinfovia é realidade ou ficção?
Carlo de Benedetti - Pela primeira vez na história humana, voz, dados, imagens e sons podem ser reduzidos ao mesmo elemento: o dígito. Então a superinfovia não é ficção. Não é apenas mais uma nova tecnologia. É uma revolução baseada na revolução digital, e ela transformará o mundo muito mais do que ele foi transformado pelo motor a vapor, o transporte ferroviário, o rádio ou o telefone.
Tadahiro Sekimoto - Hoje o valor da informação aumenta, e a tecnologia de informação está criando uma sociedade informatizada. Para a NEC, a superinfovia significa a infra-estrutura para a multimídia, não apenas fibras óticas ou redes de fibras óticas, mas também telefonia móvel, cabos submarinos, cabos coaxiais e comunicações via satélite. Poderemos criar novos empregos através da superinfovia.
Pergunta - Mas esse mercado não será dominado pelos americanos? Afinal, a NEC foi obrigada, recentemente, a adotar o padrão Microsoft/Intel, não é verdade?
Sekimoto - Nós no Japão estamos cooperando com a Microsoft e adotamos o "MS-DOS" e o "Windows 3.1". Este é um considerado um padrão de facto, que já está valendo. A sociedade informatizada só poderá crescer se existirem padrões comuns, usados no mundo inteiro, e acredito que o PC é a máquina fundamental da sociedade informatizada. Acho que no mundo inteiro a opção geral tem sido a adoção de um padrão duplo, Intel e Microsoft. Por enquanto, esses dois são o padrão vencedor no mercado, e isso é um fato indiscutível.
Pergunta - A adoção do padrão americano deixou a Europa e o Japão para trás?
Sekimoto - Não necessariamente. Eu vejo a superinfovia no sentido mais amplo do termo. Nas áreas de produção de telas de cristal líquido e HDTV (TV de alta definição), acho que estamos um passo adiante dos Estados Unidos. Os EUA podem ser o nº 1 no campo dos títulos interativos, mas acho que o Japão não fica muito atrás.
Estou convencido de que a Europa pode reconquistar uma vantagem competitiva nas novas aplicações de tecnologias informatizadas, desde que a desregulamentação seja iniciada logo. As verdadeiras barreiras na Europa são os monopólios nacionais, as empresas subsidiadas, especialmente na área das telecomunicações.
Sekimoto - Nós também achamos que as aplicações compõem o aspecto mais relevante e importante do negócio da multimídia. É claro que as estações de multimídia e os sistemas de redes multimídia -o hardware- são importantes.
Vejamos o caso do vídeo. Se os filmes forem de baixa qualidade, eles terão pouco valor. A desregulamentação é importante para facilitar o uso de tais aplicações.
A desregulamentação foi feita no mercado japonês de telecomunicações ainda em 1985, e estamos muito mais desregulamentados do que a maior parte da Europa. Sabemos que devemos continuar a desregulamentar nosso mercado. Por exemplo, a legislação médica atual precisa ser revista para que possamos transmitir serviços médicos através de novos sistemas multimídia.
Pergunta - A julgar pelo que os senhores dizem, ambos acham que o futuro está nas comunicações, não nos computadores. E de fato, ouvi falar que a Olivetti está redirecionando sua atenção para a telefonia. É verdade?
Essa é uma questão não apenas tecnológica mas também de mercado, o que explica nossa estratégia de entrar no ramo das telecomunicações móveis. Recebemos a licença de segunda operadora na Itália, e isto se encaixa perfeitamente com nosso presente e nosso futuro na área dos computadores.
Pergunta - Vamos pensar no futuro. Hoje já estamos falando aqui através de uma rede de vídeo, que, francamente, está com a imagem pouco nítida. Aonde na superinfovia os senhores acham que estaremos, daqui a dez anos?
Tradução de Clara Allain

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