São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Quem não se comunica...

HÉLIO SCHWARTSMAN

SÃO PAULO - Não resta dúvida, o problema do governo é de comunicação. Aliás, o problema do Brasil é de comunicação: alguns se comunicam muito bem, e outros simplesmente não se comunicam.
Tome-se o exemplo da bancada ruralista. Os parlamentares do campo se comunicam bem. Bem a ponto de fazer aprovar um idílico projeto que extingue os juros para a categoria. O governo não pôde nem tentar reverter a situação. Não foi comunicado de que haveria a votação. Resultado: um prejuízo de algo entre 5 bilhões e 10 bilhões de reais. A diferença de apenas R$ 5 bilhões -equivalente aos gastos com o sistema de saúde por um ano- pode ser creditada a dificuldades de comunicação.
Um outro exemplo. Desde a campanha, FHC vinha dizendo que a educação seria a sua prioridade. Não se pode contestar. Qualquer solução um pouco mais perene para a miríade de problemas que assolam o país passa, necessariamente, pela melhoria da educação.
E o que o governo fez neste campo? Lançou um logotipo ("Acorda Brasil, é hora da escola") com um baita erro de português, outro problema de comunicação. Para ficar correta, a frase deveria trazer uma vírgula logo depois de "acorda", a fim de assinalar que o termo "Brasil" está no caso vocativo.
As outras iniciativas do Planalto para o setor, como o fim do vestibular, a criação de provas finais para o nível superior, a educação à distância, foram anunciadas e desanunciadas, no todo ou em parte, diversas vezes. Mais um probleminha de comunicação.
A demissão de Roberto Muylaert do cargo de secretário de Comunicação também se deveu a falhas de comunicação. É que, para o governo, Muylaert deveria zelar pela imagem do Planalto. Só que o pobre secretário não fora comunicado dessa sua função e achava que deveria cuidar apenas do projeto de educação à distância. Acabou pagando o pato.
De qualquer maneira, alguém deveria comunicar o governo da necessidade de o governo se comunicar.

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