São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 1995
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Viagens buscam tornar o país interlocutor mundial

FHC vai visitar 14 países em busca de um 'novo tom'

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo brasileiro quer deixar de participar apenas retoricamente da discussão sobre a nova ordem internacional e passar a ser um interlocutor de fato das grandes potências.
É esse o principal sinal a ser emitido pelo périplo diplomático por 14 países que o presidente Fernando Henrique Cardoso cumprirá a partir deste mês e até o início do próximo ano.
O projeto começa a ser executado já a partir do dia 18, com a viagem aos Estados Unidos.
O objetivo é ambicioso, embora envolto na cautelosa linguagem diplomática que sempre usa o Itamaraty (o Ministério de Relações Exteriores).
Exemplo: a participação brasileira no Conselho de Segurança das Nações Unidas, principal instituição da organização internacional. Hoje, só têm lugar permanente os antigos inimigos do período da "guerra fria" (EUA, França, Inglaterra, China e Rússia), excluídos Japão e Alemanha, os derrotados da "guerra quente" (a Segunda Guerra Mundial, de 39 a 45).
"Não estamos em campanha pelo Conselho de Segurança, mas achamos que o Brasil tem que ser olhado, sob pena de o Conselho ficar desbalanceado", diz o embaixador Sebastião do Rêgo Barros, o vice-chanceler.
Mas a mira da diplomacia brasileira vai mais longe. Rêgo Barros diz que o Brasil não pleiteia um lugar no G-7 (o clube dos sete países mais ricos do mundo), mas quer que o G-7 ouça "países como o Brasil".
Reivindicação amparada em antecedentes recentes: a Rússia pós-comunista participa das reuniões do G-7. É óbvio que não há interlocutor mais adequado para esse tipo de pretensões do que a única superpotência restante no planeta, os EUA.
Uma maior participação nesses grandes foros internacionais tornou-se ainda mais relevante, do ponto de vista do próprio presidente, em função da crise financeira internacional desatada pelo episódio mexicano.
FHC acha que as instituições internacionais precisam ser reformuladas. Gostaria que elas criassem facilidades financeiras, para o caso de crises cambiais, ao alcance dos países em desenvolvimento, a exemplo do que existe para os ricos. É claro que lançar tais recados não significa que o governo brasileiro espere resultados imediatos.
"Não temos ilusões de que esses mecanismos se criem da noite para o dia", diz Rêgo Barros. Por isso, idêntico tipo de diálogo será mantido nas visitas posteriores aos dois outros grandes do mundo, Alemanha e Japão. Mas a viagem aos Estados Unidos não se esgotará no diálogo sobre relações internacionais.
A pauta é extensa. Passa, por exemplo, por um exame da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), idéia lançada na Cúpula das Américas, realizada em Miami no ano passado.
Trata-se do projeto de se criar uma zona de livre comércio entre os 34 países americanos (excluída Cuba) a partir do ano 2005. Zona de livre comércio significa a redução gradual das barreiras (tipo imposto de importação) para o comércio entre os países-membros.
No relacionamento estritamente bilateral, vai-se discutir a cooperação em áreas sensíveis (a nuclear e a espacial). "São áreas em que, no passado, tivemos problemas", diz Rêgo Barros.
O Brasil está até propondo a assinatura de um acordo de cooperação nuclear, que não ficará maduro até a visita de FHC.

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