São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 1995
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Ruralistas vão chamar Malan ao Congresso

SHIRLEY EMERICK; JOMAR MORAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O líder da Frente Parlamentarista da Agricultura, deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), disse que vai sugerir a convocação do ministro Pedro Malan (Fazenda) e do presidente do Banco do Brasil, Paulo Ximenes, para explicar a lista dos devedores do BB.
Ele disse que os dois devem explicações à Comissão de Agricultura da Câmara depois do governo ter acusado os ruralistas (parlamentares ligados ao setor agropecuário), na semana passada, de serem os maiores devedores do BB.
"Vamos pedir esclarecimentos sobre a lista publicada pela Folha", afirmou. A reunião da comissão será na próxima quarta-feira.
A lista mostra que dos cem inadimplentes até dezembro de 94, 51 eram empresas do setor rural. Juntos, eles deviam R$ 655,6 milhões, 10% do total dos débitos da relação.
Marquezelli declarou que a relação evidencia a política errada do governo contra o setor. "Somos vítimas e não os malandros que o Fernando Henrique Cardoso quis culpar", disse.
Marquezelli disse que a lista favorece as negociações dos agricultores com o governo. O setor reivindica a fixação de juros baixos para os empréstimos financeiros.
"Os maiores débitos não são dos agricultores, mas sim do próprio governo", completou. "Esta lista é altamente reveladora e tira o nosso peso".
Na semana passada, os ruralistas golpearam o governo no Congresso, derrubando a correção dos empréstimos agrícolas pela TR (Taxa Referencial de juros). Agora, governo e parlamentares negociam uma taxa de juros alternativa.
Na segunda-feira, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Guilherme Dias, vai reunir-se com o deputado Hugo Biehl (PPR-SC), integrante da bancada ruralista, para discutir o projeto sobre créditos agrícolas lastreados em depósitos a vista.
O projeto, de autoria de Biehl, extingue a cobrança de atualização monetária dos empréstimos feitos com recursos oriundos de depósitos à vista (dinheiro de contas correntes, não remunerado).
Se aprovado, o projeto pode provocar um rombo de R$ 18 bilhões nos bancos oficiais e privados, mas a bancada ruralista pretende usá-lo como arma para forçar o governo a negociar as novas regras de correção do crédito rural.
Guilherme Dias e Hugo Biehl vão conversar no gabinete do deputado. A idéia da reunião partiu do próprio secretário de Política Agrícola e foi interpretada pelos ruralistas como um gesto de boa vontade em direção ao entendimento.
O ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), Carlos Átila, avalia que o BB tem atuado dentro dos padrões técnicos.
Segundo ele, o banco precisa negociar seus débitos sob pena de não receber nunca os créditos. "Executar às vezes é pior do que negociar", completou.
O vice-presidente do TCU, ministro Homero Santos, já foi relator de uma auditoria do tribunal no BB nos contratos de financiamento internacional (importação/exportação), há dois anos.
Ele recomendou que o banco adotasse medidas mais enérgicas para receber os créditos dos inadimplentes.

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