São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 1995
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Comércio externo tem déficit de US$ 900 mi

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Com importações na faixa de US$ 4,7 bilhões e exportações de US$ 3,8 bilhões, ambas recordes, o país fechou a balança comercial de março com déficit de US$ 900 milhões. É o quinto déficit consecutivo. É menor do que o de fevereiro.
Esses números foram obtidos ontem pela Folha junto a fontes de primeiro escalão. Ainda não estão totalmente fechados, mas o resultado final, a ser divulgado na próxima semana, não será muito diferente do que já se chegou.
Apesar do novo déficit, a observação dos números indica tendência de recuperação dos saldos comerciais positivos.
Além disso, esse resultado ainda não reflete diversas medidas tomadas ao longo de março, todas de estímulo às exportações.
Há duas medidas principais: a desvalorização do real em relação ao dólar, de quase 10%, de modo que o exportador passou a receber mais reais por dólares exportados; e a redução de impostos sobre a exportação, que reduziu de 5% os custos dessa operação.
Por outro lado, a desvalorização do dólar em relação às moedas alemã (marco) e japonesa (iene) torna mais rentáveis as exportações brasileiras para Europa e Ásia.
Com esses efeitos, a expectativa do governo é um crescimento contínuo das exportações, já indicado pela atitude de exportadores que estão antecipando a venda de dólares desde o final de março.
E a importação de carros e produtos eletroeletrônicos, itens que pesavam mais na balança, foram gravadas com imposto de 70%, medida tomada no final de março.
As duas providências afetarão as importações de abril e maio. Os números de março refletem encomendas e compras feitas pelos importadores desde dezembro, quando a política era, ao contrário, de total estímulo às importações.
Em fevereiro, o déficit comercial foi de US$ 1,09 bilhão, recorde absoluto nas contas externas brasileiras. Para o governo, a redução de US$ 200 milhões no déficit de março indica tendência para os próximos meses.
No primeiro trimestre, o déficit comercial acumulado é de US$ 2,28 bilhões. Nas projeções do governo, o jogo muda especialmente no segundo semestre e o país fecha o ano com superávit na casa dos US$ 5 bilhões.
Além das medidas específicas na área cambial, o governo conta com uma desaceleração da atividade econômica para melhorar o saldo comercial.
A regra aqui é a seguinte. Se as vendas internas estão muito fortes, o exportador exporta menos, porque pode ser mais negócio vender aqui mesmo, e o importador importa mais, porque há procura.
No primeiro trimestre deste ano, a economia cresceu fortemente. Mantido esse ritmo, cresceria 8% neste ano. E se isso acontecer, segundo a maioria dos economistas, o país não conseguirá fazer o superávit de US$ 5 bilhões.
Mas nas contas do governo, a economia brasileira neste ano deve crescer abaixo dos 5%. Ou seja, se o ritmo de crescimento não cair, com as medidas que já foram tomadas, o governo voltará a restringir o consumo para conter a economia.

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