São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995
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Mídia

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

É inegável a habilidade política da FIA. De um beco sem saída -teria que admitir o erro de seus fiscais ou afirmar que a Elf era desonesta- passou a ser senhora da situação um dia antes do julgamento do caso da gasolina.
Armou-se fortemente com análises feitas em vários laboratórios de diferentes países e esperou tranquila. Na quarta-feira, o outro lado arriou.
Prevendo que não iria dobrar os membros do tribunal de apelações, a Elf reconheceu que havia feito bobagem. A retratação acabou funcionando como um bom atenuante, pelo menos para os pilotos.
E, no final da história, todos saíram felizes da reunião. Menos a Ferrari, que sentiu o gosto do doce, mas acabou não levando.
A chiadeira italiana, publicada hoje por este caderno, era mais do que esperada. E confirma uma velha tradição da F-1, a disputa bairrista dos europeus.
Enquanto os jornalistas italianos classificaram o episódio como vergonhoso, franceses e britânicos consideraram que a justiça desportiva foi reabilitada.
Enquanto isso, abaixo do Equador, os brasileiros ficam discutindo quanto tempo a F-1 vai durar. Já que Senna se foi, e Barrichello ainda não correspondeu à exagerada expectativa que foi criada em torno de seu nome, nada mais resta do que decretar o fim da maior categoria do automobilismo mundial.
E, para fomentar a fogueira imediatista, a Indy e os sete cavaleiros do apocalipse (da F-1) servem como lenha na disputa pelos índices de audiência.
Uma disputa tacanha, nos quais os dois lados ficam fabricando emoção, enquanto o grande público quer mais é rir das brincadeiras de mau gosto e sonhar com os prêmios dos programas de auditório.
A F-1 não vai acabar, e, qualquer dia, o próprio Barrichello, ou outro garoto qualquer, lembrará os brasileiros de que a categoria ainda existe.
Assim como chegará o dia em que o país terá condições de aparecer na Indy mais por qualidade do que por quantidade.
Para os fãs do automobilismo, os que realmente se interessam pelo esporte, resta torcer para que não se dê caráter de epílogo a alguma corrida de meio de temporada -e é ingênuo pensar que só a F-1 corre este risco.
O maior risco, na verdade, é o da própria mídia. Que pode descambar para a promoção pura e simples e se esquecer de espelhar a realidade.

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