São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995 |
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Torcedor só tolera um 'mau elemento'
JOSÉ GERALDO COUTO
"Edmundo e Renato Gaúcho juntos? É muito bandido para um time só", diziam. Houve quem acrescentasse, com sarcasmo: "Agora só falta vir o Romário". O temor dos palmeirenses tem origem numa superstição nunca explicitada, mas comum entre os amantes do futebol: a de que, na economia interna de um time, é bom que haja um, mas apenas um, "mau elemento". Que esse mau elemento seja invariavelmente um atacante, é um assunto para os psicanalistas. O fato é que, na época em que existiam posições definidas no ataque, era sempre o centroavante o indisciplinado, o porra-louca, o maloqueiro. Talvez por sua própria disposição agressiva em campo -é o homem que, no terreno do inimigo, tem que atacar, furar o bloqueio, invadir a área, fuzilar o goleiro-, o centroavante é, por definição, um ser bélico e anti-social. No extremo oposto, um médio-volante, obrigado à cobertura de seus companheiros, à supervisão de sua defesa, é um sujeito consagrado à solidariedade. Tem algo de síndico de edifício ou de gerente de banco. É o sujeito que está lá para ajudar, na alegria e na tristeza. É o último socialista, o homem que acredita no trabalho de equipe para o bem comum. Pense em Zito, Dudu, Dino Sani -volantes emblemáticos de outras eras-, e compare sua imagem com a de centroavantes predadores como Vavá, Fio Maravilha, Serginho Chulapa, Nunes, Stoichkov, Caniggia ou Romário. Até o germânico Klinsmann tem seu quê de bárbaro destruidor, como o tinha, na década de 70, seu compatriota Gerd Mller. Os anos 60 e 70 viram o curioso caso de três centroavantes -um mais maloqueiro que o outro- na mesma família: César Maluco (do Palmeiras), Caio Cambalhota (do América) e Luisinho (do Flamengo, hoje técnico do América carioca). Prova definitiva de que a genética é coisa séria. Nessa linha de raciocínio, é interessante notar que, à medida que amadurecem e mudam de personalidade, certos jogadores alteram sua posição em campo. Um caso típico é o de Casagrande, que despontou no Corinthians, em 1980, como centroavante rebelde e, depois da vivência em campos da Itália, Rio e São Paulo, acabou como um solidário e disciplinado meio-campista. O próprio Zico foi recuando enquanto avançavam os anos, especializando-se em lançar outros companheiros mais irreverentes e agressivos, ou então em bater faltas, que é uma espécie de pacífico tiro ao alvo, comparado com a guerra suja da grande área. Ali, entre a meia-lua e o gol, é o país dos bandidos. Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar texto de Matinas Suzuki Jr, que escreve neste espaço às terças, quintas e sábado Texto Anterior: Mancuso se declara feliz Próximo Texto: Mídia Índice |
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