São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995
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Personagens ainda mudam nestes dois anos

EVA JOORY
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles são pós-hippies e pós-yuppies. Não trazem, portanto, nem a ligação com os ideais políticos pacifistas dos primeiros nem o culto egoísta ao dinheiro que caracterizou os jovens urbanos dos 80.
Foi Douglas Coupland quem conseguiu reunir no livro que é melhor compêndio que romance as características dos chamados "Xers" (como se chamam nos EUA; pronuncia-se éx-cers).
Os brasileiros entrevistados para a reportagem de 93 cumprem algumas dessas especificidades.
Fernando Florence, 25, trabalhava como garçom para sustentar sua atividade de iluminador de teatro. Hoje, no mesmo restaurante, conseguiu se profissionalizar. "Mas ainda tenho essa inquietação que me associa à Geração X."
Lucimara Oliveira, 29, era o exemplo da falência da faculdade como formação profissional, máxima do livro de Coupland. Gerente de loja, largou tudo em 94 para viajar ao lado do marido (casou-se neste período). Foi pensando em morar lá. Voltou. Trabalha de novo na mesma loja.
"O que mudou na minha vida foi o casamento, dividir minha vida com outra pessoa", explica Lucimara. "Fiquei muito tempo sozinha ou pulando de galho em galho. No mundo a gente encontra cada estrupício..."
Monica Mendes, 28, mudou de atividade diversas vezes nos últimos dois anos. Hoje é agente de diretores de videoclipe e fotógrafos de uma produtora, em São Paulo. Além das mudanças constantes, outro denominador X é a dificuldade de encontrar tempo para namorar, segundo ela.
"O trabalho sempre foi mais importante, é meu vício. Atualmente, acho que colocaria namoro e trabalho em primeiro plano. Sinal de amadurecimento."
Antoune Naklhle, 26, era aquele que se dividia em cinco, sempre correndo para se desdobrar como ator, produtor e assessor de imprensa e revisor de textos. Sem falar nos patês que fazia com a mãe, com quem ainda mora.
Hoje em dia diz que está mais tranquilo, mais equilibrado. Perdeu 15 quilos. Trabalha como ator e montou sua própria firma de assessoria de imprensa para teatro.
Depois da reportagem, ficou caracterizado como "X": "Meus amigos me cumprimentavam com "oi, X". Mas é verdade, sou parte desta geração".
Cali Coen, 30, viajou o mundo por dez anos (os viajantes são outro hype da Geração X). Aportou no Brasil, entrou na MTV e durante os últimos dois anos chegou a dirigir a emissora.
Saiu de lá em novembro e agora monta negócio próprio, ligado a moda, música, produção e design. Tem um projeto de jornal para uma emissora de rádio.
"Ficar parada, nunca", sentencia. "Mas estou mais tranquila. Me casei e criei raízes. Tenho agora outra visão do mundo."
Ana Paula Intelizano, 23, fez o caminho contrário. Mora em NY há dois anos. "Essa geração sempre vai existir e ainda me sinto parte dela. Quando vim para cá, quis ler sobre Geração X. Vi que, no fundo, todos os meus amigos passavam pelos mesmos problemas."

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