São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995
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Apagando as luzes

Apagando as luzes
Depois de titubear um pouco, o secretário de Política Econômica, José Roberto Mendonça de Barros, acabou admitindo que o sucesso do plano de estabilização depende, ainda, de maior contenção do consumo. Ele anunciou a intenção do governo de fazer novos cortes de gastos nas estatais.
O fato de que nem o secretário duvida mais é o reaquecimento do consumo no início de abril. Para Mendonça de Barros, o consumo "está em um nível preocupante".
Resta saber se o grau de preocupação do governo é hoje suficiente e, por consequência, se as medidas propostas vão surtir efeito em tempo hábil. Afinal, o governo tenta desde outubro conter o consumo, o crédito e as despesas.
Os dados são eloquentes quanto ao insucesso das tentativas. Ganhou espaço o que os economistas denominam "desintermediação financeira": do cheque pré-datado ao financiamento direto oferecido pelas lojas aos consumidores, o crédito encontrou caminhos alternativos simplesmente porque havia consumo, forte e contínuo. Também ganharam destaque as várias tentativas do governo, às vezes matreiras, de reter recursos orçamentários e adiar desembolsos.
A idéia agora é limitar a capacidade das estatais de se endividarem. Ou seja, trata-se de evitar que os seus gastos aumentem. Neste caso, o problema não é o risco de insucesso da medida em si, mas a sua insuficiência diante do problema que já existe. Afinal, parece que urgente é reduzir o consumo mais que evitar que ele aumente.
O secretário de Política Econômica sugere ainda que o governo recorrerá a maior rigor na cobrança de débitos e na arrecadação de impostos como formas de evitar maior consumo. Mais uma vez, em tese são medidas acertadas e urgentes. Na prática, entretanto, os efeitos podem tardar mais que o devido.
O governo vai aos poucos acordando para o enorme desequilíbrio macroeconômico que o Plano Real produziu. É o velho fantasma do "excesso de demanda" que se imaginava exorcizar com importações, remédio hoje caro demais.
Mas os riscos crescem também quando o governo age apenas topicamente, como se a "sinfonia fina" bastasse. É o síndico pedindo para apagar as luzes, por medida de economia, quando já se enxergam as faíscas do curto-circuito.

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