São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995
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Transplantes mais fáceis

Transplantes mais fáceis
Apenas no Estado de São Paulo a fila de espera por um transplante de córnea contava no ano passado com 10 mil pessoas. Outras cerca de 10 mil amontoavam-se à espera de um rim, mais 150 por um coração e outras 150 por um fígado. Na soma de todo o país, esses números alcançam magnitudes ainda mais impressionantes.
Avançando de modo desesperadoramente lento, essas filas representam uma via crucis não raro mortal. Cerca de 40% das pessoas que precisam de transplante de coração morrem antes de surgir um doador. E isso em São Paulo, onde é obrigatória a notificação de mortes cerebrais, que em tese permitem o transplante do coração.
O pior dessa dramática situação é que ela é evitável. Facilmente evitável. Basta vontade política e ação legislativa. Hoje, qualquer pessoa pode, em vida, doar seus órgãos depois de morto, autorização que pode ser dada também pela família. Esse sistema, no qual os cidadãos são não-doadores até prova em contrário, resulta em doações em número tragicamente insuficiente.
Ora, a legislação poderia, em vez disso, dispor que cada cidadão é doador até prova em contrário. Se não houver oposição anterior da pessoa nem recusa da família, os órgãos de um morto são automaticamente candidatos a doação. Tal providência teria obviamente um enorme impacto na disponibilidade de órgãos para transplante.
Note-se que não se trata de ameaçar o direito de pessoas que, por qualquer motivo, querem que seu corpo seja mantido intacto após a morte. Isso facultado pela possibilidade de recusa.
Trata-se sim de salvar milhares de vidas e atenuar o drama das pessoas à espera de transplantes.
Não são comuns os casos de medidas tão simples com impactos positivos tão impressionantes e que atendem ao interesse público de forma tão patente. Resta indagar por que ainda não foi adotada.

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