São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995
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Vendeta do Congresso

JOSÉ ROBERTO CAMPOS

SÃO PAULO - O governo não foi derrotado pela bancada ruralista, mas pelo Congresso. O poder de fogo dos deputados que dizem representar os interesses da agricultura não é imbatível, mas cresce à medida que falha o comando da base política de apoio do presidente e faltam rumos claros a seguir.
Há anos que se tenta mudar o indexador das dívidas agrícolas. É certo que plantar, colher, armazenar e vender é uma atividade arriscada e, no mundo desenvolvido, ela é sempre premiada. Pode-se argumentar que pagar o saldo de um financiamento da casa própria corrigido pela TR em dez ou 15 anos depois de sete planos econômicos é tão ou mais arriscado.
O que a bancada ruralista exige é apenas um casamento justo de sua remuneração (a evolução dos preços mínimos) com a de suas dívidas. Este, porém, é um ponto importante dentro de uma política agrícola -que não existe. Se o governo não queria a mudança agora imposta, deveria propor outra coisa e acionar seus líderes para ganhar tempo. Até o pouco hábil Itamar Franco conseguiu desmontar esta "bomba" orçamentária prometendo compensações à tal bancada (que não vieram).
Não resta dúvida de que, ao não traçar rumos definidos para setores vitais da economia, o governo tem sempre de se surpreender apagando incêndios. De repente, o Senado aprova a regulamentação de uma estúpida fixação de juros em 12% ao ano. Ontem, foram os ruralistas.
À tibieza do governo corresponde a pura "vendetta" do saco de gatos dos partidos que formalmente o apóiam. Eles querem cargos, não estão recebendo e votam contra. O casuísmo das decisões do Congresso desfigura a racionalidade das decisões econômicas. A falta de decisões econômicas, porém, acelera a pulverização virtual da base política de apoio do governo. E tudo termina em um custoso diálogo de surdos: o governo não tem posições claras, os políticos oportunistas não têm cargos e a agricultura não tem política.

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