São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995
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Reengenharia do crime

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Duas notícias mostram que o Brasil está operando a reengenharia do crime. Os casos são trágicos, revelam até onde vai a crise social brasileira. Impossível, porém, conter a tentação pelo riso diante do absurdo.
Cinco homens armados com metralhadoras e revólveres calibre 38 tentaram roubar um presídio no interior de São Paulo. Invadiram a portaria e renderam agentes penitenciários. Queriam nada menos que arrombar o cofre. Saíram dali com R$ 390, relógios e um revólver.
Inversão curiosíssima. O presídio existe, entre outras coisas, para punir e recuperar pessoas que roubam. E não ser alvo de roubo. Havia um tempo em que todo assaltante tinha medo de prisão. Agora, pelo jeito, existe prisão com medo de ser assaltada.
Outro extraordinário exemplo de reengenharia do crime vem do Rio de Janeiro. Descobriu-se que um grupo de policiais sequestrou Zé do Rola, acusado de comandar uma rede de sequestros e tráfico de drogas. Os policiais exigiram dinheiro da quadrilha para soltá-lo.
Até dá para entender (e nunca justificar, claro) policiais envolvidos em sequestros. Mas envolvidos em sequestros de sequestradores, cobrando resgate da quadrilha, também já é demais. E, mais, a quadrilha pagando.
Esses dois casos são apenas um indício de que a criminalidade está fora de controle. A sociedade não dispõe de mecanismos adequados preventivos nem repressivos para combatê-la.
Transbordam as evidências de policiais envolvidos no crime organizado. O padre Júlio Lancelloti, de São Paulo, disse a esta coluna estar cansado de ver policiais vendendo proteção a pontos de vendas de drogas.
Um relatório a ser publicado pela Organização Mundial de Saúde traz testemunhos de viciados em crack em São Paulo -a maioria deles afirma como é fácil adquirir as drogas, devido à omissão cúmplice de policiais.
PS - O ministro Pedro Malan disse ontem a esta coluna não estar convencido dos números de empresários de que haveria ameaça de recessão. Indicou que mais medidas devem ser tomadas para frear o consumo para evitar pressões nos preços e na balança comercial (exportações menos importações).

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