São Paulo, sábado, 15 de abril de 1995
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Páscoa cristã

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Na noite de Sábado Santo, as comunidades cristãs se reúnem para celebrar a festa de Páscoa, a vitória de Jesus Cristo sobre o pecado e a morte.
Nesta vida, por que não somos felizes? Não é a maldade no coração humano que causa ofensas, violência, divisões e tristeza? Ficamos separados dos outros e longe de Deus. Basta pensar nos dramas acarretados pela inveja, ciúme e ódio. Além disso, o temor da morte e incerteza sobre a vida futura deixam-nos inquietos e apreensivos.
Os sinos da Páscoa anunciam, mais uma vez, que Cristo, pela sua morte na cruz, venceu o pecado e nos obteve o perdão definitivo de nossas faltas, reconciliando-nos com Deus e entre nós. A ressurreição de Jesus é a certeza de que a morte não nos destruirá. Havemos de entrar na casa do pai que nos chama à felicidade da comunhão plena com ele e os irmãos.
Nesses tempos, em que as dificuldades foram aumentando e o desânimo infiltrou-se pelo coração adentro, diante da miséria, das injustiças, da corrupção e violência, precisamos todos ouvir de novo a mensagem pascal de conforto e esperança.
A vitória de Cristo não nos deixará desanimar diante da tarefa de vencermos o ódio, a ganância, a sede desenfreada de prazer e toda forma de pecado. Para o cristão, a Páscoa de Jesus é passagem à vida nova, à mudança de comportamento pessoal, especialmente na própria família, renovando o amor, a compreensão e doação aos outros. Isto inclui correção de faltas, vícios, ressentimentos e, também, gestos de solidariedade, partilha e afeto.
Vida nova é também o compromisso de construir um tipo diferente de sociedade, marcado pelo respeito à dignidade de cada pessoa, sem discriminação de classe, raça ou ideologia. À luz da ressurreição de Cristo, temos que promover a concórdia fraterna e colaborar para que todos tenham alimentação, moradia, trabalho e condições de manter a própria família. Neste anseio de justiça social, vamos descobrir as predileções de Cristo e assegurar, no espírito da Campanha da Fraternidade, a solicitude pelos mais carentes.
Que temos feito, em nossas comunidades, pelos irmãos excluídos? Será que reconhecemos, em cada sofredor, a face de Jesus Cristo? Precisamos sair do egoísmo e optar por um tipo de vida simples e sóbrio, para termos, assim, condição de partilhar o que temos com os que nada possuem. Acumulamos bens, dos quais nem vamos aproveitar, devido à brevidade de nossa vida. Não seria mais evangélico repartir o pão com os famintos?
As comunidades cristãs, a exemplo do bom samaritano, poderiam examinar, no espírito pascal, como praticam a caridade em favor das crianças, desempregados, idosos e enfermos. Que temos conseguido fazer para aliviar o sofrimento dos encarcerados e de suas famílias? Como ajudar, de fato, o "povo da rua" que aumenta cada dia em nossas cidades?
A "Feliz Páscoa" se realizará em nossas vidas na medida em que abrirmos o coração à bem-aventurança evangélica, experimentando a alegria maior de quem dá. O amor gratuito e generoso será em nós fruto e sinal da vitória de Jesus Cristo.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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